domingo, 21 de outubro de 2012

O retorno!? Nada melhor do que uma crítica para restabelecer os ânimos. Concordam?


 Eu não iria utilizar uma crítica no meu post de retorno ao blog depois de pouco mais de dois meses sumido, mas ao assistir "Martyrs" (2008) tive que escrever algo sobre o bizarro filme francês. Estava a terminar um mega-post acerca de, não, isto será surpresa. Só digo que eu ía utilizá-lo agora, mas deixa para lá. Ainda preciso ajeitar umas coisinhas mesmo e, como falei, senti-me na obrigação de falar sobre esta obra. Então, vamos lá!

 O diretor e roteirista Pascal Laugier não é lá muito conhecido fora da França. Eu nem sabia da existência do indivíduo até ler sobre Martyrs em algum lugar no estranho mundo da Internet. Tenho que admitir que, li, mas não empolguei-me o suficiente para procurar o filme. Erro meu. Demorei bastante para ver uma produção que vale muito a pena, mesmo. Só vim assisti-lo agora porque vi o trailer de The Tall Man (2012) e, lendo críticas sobre este novo filme, descobri que era do diretor de "Martyrs". Pensei então que já estava mais do que na hora de tirar a ideia de ver o filme do baú e, de uma vez por todas, conferi-lo. Afinal, mesmo ainda não tendo asssistido ao "The Tall Man", só li coisa boa a respeito. Além de que, nunca deixo de esbarrar em alguma lista de recomendação de filmes independentes do gênero horror em que "Martyrs" não esteja por lá.



 O que dizer deste filme? Não sei muito bem, admito. É um dos filmes mais difíceis que já conferi até o momento. Sim. Não falarei muito sobre o roteiro, pois isto estragaria algumas surpresas, e, a forma lenta e compassada como os detalhes vão sendo revelados é um dos pontos altos do filme, fato. Vale a pena começar dizendo que Martyrs pode ser traduzido como 'Mártires' ou como 'Testemunhas', e ambas as interpretações podem ser aplicadas ao longa. Por quê? Bem, você verá. E são exatamente estas interpretações que, ao serem diretamente (mas não claramente) expostas no roteiro, deixam o espectador aturdido. Afinal, o que viria a ser um mártir realmente? O filme meio que adentra neste universo, criando reviravoltas e cambaleando entre o horror e o psicológico. Se ele consegue isso? Pode-se dizer que sim, mas não esperem um final grandioso com explicações sobre a origem da vida (ou o que é na verdade a morte), afinal nem Prometheus conseguiu isso! E olhe que era um filme que prometia isso (tá, não podia deixar essa piada truculenta passar, haha)! O filme escorrega no melodrama em alguns momentos e tenta ultrapassar limites de profundidade que jamais conseguiria alcançar (como o final altamente pretencioso), mas mesmo assim nos entrega uma história fascinante e que nos deixa pensando muito após os créditos finais.

 Já deixei claro que não irei sair atirando spoilers, mas a premissa aqui é a história de Lucie, uma menina que fugiu de um cativeiro onde sofria abusos. Na instituição onde passa a ser tratada (aparentemente um internato que também funciona como clínica psiquiátrica) conhece Anna, e a partir daí as duas criam um forte laço através de uma amizade inusitada. Depois de adulta, Lucie ainda está atormentada pelos traumas de infância (e que traumas!) e deseja se vingar daqueles que arruinaram sua vida, mas acaba apenas adentrando num pesadelo sem volta e, claro, arrasta Anna consigo.

 Não dá para dizer se a protagonista é Lucie ou Anna. Creio que o mais certo é dizer que ambas o são. Cada uma tendo sua importância nos diferentes atos do filme. Sim, atos/fases. Pode-se dizer que aqui existem três: nos dois primeiros há elementos que remetem ao terror japonês e revenge movies, embora seja neste momento em que o melodrama fica mais ativo. A produção é bem modesta, mas a direção é muito eficiente, procurando transições, movimentos e cortes que ajudam demais a sustentar um ritmo tenso e cada vez mais sufocante. O terceiro ato, embora abandone o tom mais realístico dos dois primeiros, é o mais surpreendente e difícil, lidando com um tema metafísico e desafiando o espectador a testemunhar o enorme sofrimento da protagonista (não direi qual), uma conclusão surreal que deixa margem a inúmeras interpretações.


 É interessante observar no filme diversos momentos em que a câmera capta imagens que evocam o Holocausto, tornando tudo ainda mais revoltante e tenso. Pascal Laugier, na minha opinião, imprime um tom depressivo que permeia o filme inteiro e tenta criar um revenge / torture movie com mais ênfase no lado psicológico, arriscando-se a analisar a mente das vítimas apresentadas e seus algozes. É exatamente isto que quero dizer quando falo sobre a investida do diretor numa coisa mais profunda em um filme que poderia simplesmente transformar-se numa baboseira pretenciosa e nada mais. Mas não nos enganemos, ainda é um filme de terror e quer chocar, mas demonstra um pouco mais de coragem e traz a tona a discussão em torno de até que ponto um cineasta pode atravessar uma linha entre o que seria justificado e gratuito.

 Tenho que dizer que "Martyrs" não é um filme para todos os públicos. É violento, é polêmico e, acima de tudo, não tem medo de atirar a primeira pedra. Sempre gostei de filmes de terror franceses, mas este tornou-se meu favorito. É fato que, nesta "nova" onda de terror europeu querem fazer o mesmo que americanos e japoneses tentam, que é deixar o espectador assustado, enojado e tenso, mas o fato desses cineastas assumirem mais riscos e incomodar o espectador, desafiando os limites, deu um novo ânimo para os fãs do horror nestes últimos anos, isto é fato. Deixo aqui alguns exemplos de filmes desta atual onda européia de terror e exploitation: Alta Tensão, de Alexandre Aja, A Invasora, Eles, A Fronteira, [REC] e até mesmo Irreversível, de Gaspar Noé, que apesar de não ser assumidamente do gênero, certamente é uma influência. O que difere esses filmes violentos de similares americanos e japoneses é um enfoque mais humano e a quase unânime presença de protagonistas femininas.

 O filme é perverso e chocante, e, como já falei, não é para todos mesmo, mas tenho que dizer que esta obra não merece, nem de longe, apenas ser taxada como mais um Filme B de horror. Os temas nele tratatos atravessam gerações e tabus com um enfoque pernicioso em relação à religião, o que já o faz destacar-se entre muitos. Merece ser assistido e analisado, e, como diz a Mademoiselle em uma das épicas cenas do filme “No mundo como ele realmente é, não há nada mais além de vítimas".


3 comentários:

  1. Juro que não entendo o amor das pessoas por esse filme. O gore que tanto falam eu tô esperando até agora para ver (a invasora é infinitamente melhor nesse quesito). Quanto a história ela não apresenta nada que realmente importe sendo apenas uma mistura do que já foi feito em outros gêneros. Não to dizendo que filme é ruim, só não entendo o amor que os fã de terror tem por ele afinal a produção francesa tem coisas muito melhores.

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    1. Mas eu nenhum momento da crítica eu falo de 'gore', Marilia, hahahahaha. E de forma alguma eu acho que este filme deva ser assistido por quem procura o tal derramamento de litros de sangue, porque realmente não verá isso. Eu achei o filme muito mais violento em relação aos temas e como eles são introduzidos na trama, além do fato das torturas serem muito pouco justificadas. Eu, simplesmente, gostei da estória maluca e pronto. Em relação ao filme 'A Invasora', eu gosto dele sim, e muito, e concordo que para quem procura gore ele represente um "bom" exemplo, mas entre ele e 'Martyrs' eu fico realmente com este último, pois ele realmente acabou por me surpreender. E, como disse na crítica, apela muito mais para o terror psicológico através de uma trama interessante e surreal. Faz muito mais o meu estilo de filme.

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  2. pois é exatamente isso que não entendo, tanto filme de terror francês bom por ai, mas as pessoas escolheram gostar justamente de Martyrs. Definitivamente não gostei achei uma salada sem sentido, personagens chatos, no começo até parecia ser legal (a cena da invasão da casa é realmente maravilhosa), mas depois o filme desanda. Acho que não entendi a piada, só pode ter sido isso!

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