sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O retorno ao blog e uma crítica indie. The Broken Circle Breakdown (ou Alabama Monroe) - um filme que consegue ser perfeito sem exageros.


 Pessoal, demorei alguns séculos para retornar ao blog, mas infelizmente estes "tempos de crise" surgem. É normal, fazer o que? Mas quero deixar claro que eu jamais abandonarei o blog. Posso demorar um pouco (muito às vezes) para voltar com uma nova postagem, mas largar o blog jamais. É isso. Eu estou preparando alguns Especiais para postagem, e creio que devam sair antes do Ano Novo, mas não estou prometendo nada, ok? Eu quase que lançava um agora para o retorno ao blog, mas pensei bem e achei melhor incrementá-lo um pouco mais. E eu quis aproveitar que assisti a este belo filme, The Broken Circle Breakdown, para fazer uma análise bem direta e ao ponto. Pois este merece e não é todo dia (mesmo!) que eu assisto a algo de um Diretor que nem sequer tinha ouvido falar (Felix Van Groeningen, um belga perdido aí da vida), e presencio uma das melhores experiências cinematográficas do ano (que na verdade é de 2012, mas veio entrar nas mostras competitivas este ano, vai entender! Vai ver é porque é belga, haha). E vamos lá!



 Fui pego de surpresa por este filme, eu tenho que admitir. Eu estava catando algo na internet sobre o filme - também indie e muito bem criticado - Blue Is the Warmest Color (para você ver como a coisa foi longe), e acabei me deparando com um trailer incrível de um filme chamado Alabama Monroe (que depois eu descobri que este é um "segundo nome" dado para ele, que na verdade se chama The Broken Circle Breakdown). Deixo aqui o trailer.


 Primeiro que eu nunca havia sido dragado assim por uma trilha sonora country, pois nunca gostei mesmo do gênero. Então a partir daí já me surpreendi. E segundo que eu adoro este tipo de filme que se utiliza dos personagens para criar um contexto musical que na verdade é a trilha sonora do filme. Pode parecer besteira, mas isso faz uma enorme diferença. Dá um realismo e impacto ao filme sem precedentes. E aqui, temos a prova disso. Eu estava mais ou menos certo das coisas que aconteceriam no filme após visualizar o trailer, mas outras coisas foram bem diferentes e me surpreenderam demais. Vamos aos fatos.

 The Broken Circle Breakdown é um drama pesado. Não tem romance piegas ou historinha de casal com um final feliz. Não mesmo. Aqui temos o retrato de duas vidas radicalmente distintas que acabam se cruzando, se amando loucamente, e que "convivem" até 'um' final. O que me chocou neste filme foi a forma sutil, porém radicalmente emotiva, com que o diretor belga conseguiu colocar o roteiro para funcionar e ainda consegue nos deixar impactados com os fatos que ocorrem no decorrer da trama. E estes são muitos. Pense num casal complicado!

 O filme não tem uma ordem cronológica para demonstrar os acontecimentos. Então você irá se deparar com um início pelo meio, e um meio pelo final e o final no início (hahahahahaha). Vá se acostumando. Eu simplesmente adorei isso. O roteiro vai e volta e consegue, ainda sim, nos surpreender a todo momento. Você pensa "Ah, eu já sei o que acontece!", mas ledo engano! Mas não espere também algo mirabolante e diferente de tudo o que você já viu. O filme não é a obra de arte mais original que existe, claro que não, mas consegue ser um grande destaque entre muitos. Isto é fato.


 Eu não vou poder entrar em muitos detalhes sobre a trama em si, pois como o filme vai "pipocando" os detalhes do nada, sem ordem e sem aviso prévio, eu acabaria soltando inúmeros spoilers. Mas posso falar dos personagens e porque eles tanto me agradaram.

 Temos o Didier Bontinck, um músico de uma banda country da Bélgica, que canta e toca banjo e sonha em ir para a América (pelo menos no começo). Ele conhece Elise Vandevelde, uma tatuadora profissional pela qual se apaixona perdidamente à primeira vista, e para a sua alegria ela também. Eles acabam se conhecendo melhor, se divertem, se amam, ela acaba virando o segundo vocal na banda (eu diria primeiro, pois a voz dela é impactante), e os dois passam a viver realmente juntos. Mas o filme realmente começa a mostrar a que veio depois dessa inusitada união.

 Teremos discussões amorosas, políticas, religiosas, etc. Tudo num contexto muito sério, mesmo as personagens não sendo propriamente "os donos da verdade", ou sequer marcos da inteligência. Mas eles são presentes, com seus pensamentos e ideias sobre o real estado do mundo atual (pelos fatos mostrados na televisão e algumas outras coisas, supõe-se que o filme se passe entre 1990-2005, mais ou menos), e é isto que as torna tão interessantes. Não veremos aqui duas pessoas que convivem e não falam sobre nada além de seu casamento e do dinheiro que falta na casa. Temos sonhos, pretensões e consequências. É por isso que falei que o personagem Didier sonha em ir para a América no começo do filme. O personagem, que à primeira vista parecia ser um estúpido machista e que só sabia viver da música, é altamente complexo e mutável. As suas cenas, da metade para o final do filme, são realmente inesquecíveis, e as críticas que ele apresenta aos Estados Unidos (e até à religião Católica) fazem bastante sentido, mesmo sendo apresentadas de uma forma tão desconcertante. A Terra dos sonhos sem limites acaba virando um amontoado de pó na sua cabeça conturbada.


 Já Elise (ahhh, Elise!), é uma das personagens femininas mais incríveis que tive o prazer de presenciar num longa metragem. Também cheia de ideais e certezas que acabam sendo desconstruídas no decorrer da trama, ela acaba despencando do céu que construiu em sua mente. Na verdade o casal passa por isso junto. Esta também é a beleza do filme. Os dois são tão diferentes, mas conseguem tornar-se um só na alegria e no sofrimento. Mas Elise é o alicerce desta união, e isto fica logo aparente no começo do filme. O Didier pode ter tamanho e cara feia, mas não passa de um romântico sonhador (e ainda por cima é ateu, mas nem parece). Elise, aparentemente encantada com a vida e pronta para diversão, acaba encarnando uma personalidade extremamente forte e dominante, que vai do paraíso ao inferno em segundos e ainda arruma tempo para passar maquiagem (ou melhor, fazer uma nova tatuagem, pois ela tem várias!).

 Bem, é mais ou menos isso. Não posso, como já falei, entrar em detalhes acerca da trama, outros personagens, etc pois acabarei soltando algum spoiler. Mas enfim, temos realmente aqui uma jornada dupla - a de Didier e a de Elise. Ambos buscam a felicidade em suas mentes radicalmente diferentes e tentam encontrá-la juntos, mas essa não será uma tarefa fácil, e inúmeros acontecimentos irão de surgir. Isto eu aviso logo. Teremos uma gestação, uma doença, uma separação, um acontecimento histórico, apresentações musicais, etc. É coisa demais em duas horas de filme, garanto. E vale muito a pena.

 Sobre a parte técnica do filme, eu destaco realmente - como já deixei claro no início do post - a trilha sonora deste. O longa não possui Fotografia excepcional, ou figurino maravilhoso. É tudo bem simples na verdade. É um filme com cara de indie, e que não nega a sua origem. E isto é ruim? Claro que não, é perfeito. Pois com tudo isto ainda conseguiu ser um marco. Uma sutileza marcante. Mas voltando à trilha sonora, uau! Que música country é essa!? Funciona de forma tão perfeita no filme, que eu fiquei sem palavras para cada cena cantada. O filme não se torna um musical por causa disso, longe disso na verdade. Mas a música é a estrada pela qual o filme percorre com sua história. Fato! As músicas são cantadas pelo elenco mesmo (claro que com umas edições aqui e aculá, logicamente, mas mesmo assim são incríveis!), e cada qual com uma apresentação especial numa cena do filme. Assim que terminei de assisti-lo tive que correr para baixar a trilha, e valeu muito a pena!


 Só digo isso - corra para ver este filme, pois não irá se decepcionar! Interpretações tocantes, música de excelente qualidade, uma trama espetacular. Você viaja por rompantes de alegria e tristeza, e irá presenciar o final mais triste/feliz que já viu! (hahahahahahaha), sério! Um filme simples e ao mesmo tempo tão marcante, este é o verdadeiro marco desta obra. Fenomenal, palmas! E se não levar o Oscar, grande coisa, afinal estas premiações já derrubaram o pau da barraca faz tempo e não servem mais para muita coisa mesmo. E ah, você ainda saberá o porquê desse outro nome - Alabama Monroe -, ao assistir ao filme, não se preocupe. ;)

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