sábado, 4 de fevereiro de 2012

Resenha *MEGA* crítica sobre 'Millennium - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres'


 

  Olá novamente pessoal! Como falei, estou postando com mais frequência *cof*, é. Enfim, neste post venho falar sobre um filme meio polêmico. Já devia ter falado dele a mais tempo na verdade! Mas por que 'meio' polêmico, você se pergunta? Bem, eu creio que devido à falta de polemicidade que a história traz mas que fizeram questão de tornar tudo um circo dramático de primeira categoria, com direito à discussões misóginas e cinco indicações ao Oscar.


  Humm, vejamos. Falando diretamente sobre o filme, digo de cara que o adorei. Bastante. Não sou lá muito fã de David Fincher, afinal da sua vasta lista de produções só gostei de algumas, mas neste filme ele me pareceu bem diferente do "normal". É como se ele estivesse jogando no liquidificador alguns de seus filmes e depois separando partes em cada sutil detalhe de cena, personagem, trilha sonora. Tudo me pareceu um pouco nostálgico. Como não comparar Lisbeth Salander (a hacker inteligente e anti-social) com a querida mama-alien Ellen Ripley (interpretada por Sigourney Weaver) de 'Alien 3'? Mesmo eu tendo odiado esse 'Alien', que para mim foi o pior dos quatro, tenho que admitir que David Fincher transformou Ripley numa figura mais complexa, jogada num lugar domidado pelos homens e obrigada a rever muitas coisas e não somente pensar em "Tenho que fugir dos aliens!" como ela fez em todos os outros filmes. Como não lembrar de alguns momentos tensão de 'Seven - Os Sete Crimes Capitais'? Mesmo não tendo alguma cena a la pecado da gula, o clima está lá de vez em quando. 'Clube da Luta' também aparece la e cá em cenas frenéticas, 'Zodíaco' com seu clima meio noir e tomadas (muitas!) com cores frias, trilha sonora evasiva e um mistério do tipo. 'O Quarto do Pânico' nas ceninhas quase finais e, claro, 'A Rede Social'. Por quê? Porque tem muita cena de acesso à internet? hahahahahahaha, não! Pela própria Rooney Mara e sua ótima Lisbeth. Você sempre teima em lembrar dela lá em 'A Rede Social' quando ela fez a ex-namorada decidida do Mark Zuckerberg, mas isso não importa, afinal ela está perfeita como Lisbeth e, creio eu, foi a única indicação ao Oscar do filme que valeu a pena - Melhor Atriz. Ela não vai ganhar (ou não, afinal o Oscar anda muito louco), mas valeu somente pelo reconhecimento.

  Para quem não conhece a trilogia de livros 'Millennium', escritos por Stieg Larsson, fica sabendo agora que esse filme é baseado no primeiro da pequena série de suspense policial com rompantes de novela romântica. Já existem adaptações (suecas) para os três livros, e eu já vi as três, mas não indico pois são ruins (sim, nada discreto, mas são), afinal elas destroem coisas do livro, distorcem fatos e tira toda a complexidade dos personagens - coisa que incrivelmente (eu não acreditava) o remake hollywoodiano conseguiu manter vivíssimo. Os livros são muito bons, diga-se de passagem, porém, até o momento, somente li os dois primeiros (não vejo a hora de sair o filme do segundo, que é de longe muito superior ao seu antecessor). A história nos joga, logo de cara, a um mistério de décadas, e sim, ele vai se desenvolver durante todo o filme, mas fica logo visível que a intenção é destacar o casal protagonista - o jornalista (ferrado e metido a detetive) Mikael e a hacker punk gótica sei lá mais o quê Lisbeth. A série pretende destacar isso, afinal cada livro não continua o mistério do primeiro, mas sim as interações entre os protagonistas que sempre voltam para um novo "caso". Porém o destaque à Lisbeth Salander é percebido a todo momento, mas com razão, afinal esta não é uma personagem qualquer. O início (grande) serve para nos apresentar estes complexos personagens, quais seus problemas, onde eles vivem, o que eles querem, no que irão se meter, e tudo isso circundando o mistério do filme que já nos foi apresentado logo nas cenas iniciais. Depois partimos para o "encontro"-união já esperado (demoraaa) entre Mikael e Lisbeth e daí tudo vai se desenrolando num jogo de enigmas, revelações, muito suspense e humor negro. Não vou sair destrinchando a história porque, mesmo eu achando que não seria spoiler algum (só se eu dissesse quem é o assassino, hahahahaha), não acho legal isso de qualquer forma. Então é mais ou menos isso, agora vamos às considerações sobre os temas que rodeiam o longa.

  Começando pelo próprio autor do livro Stieg Larsson (Karl Stig-Erland Larsson), que praticamente lançou a trilogia postumamente. Sim, ele morreu vítima de ataque cardíaco aos cinquenta anos, logo depois que entregou a série para a editora publicar. Ou seja, nem viu seus livros serem lançados e não pode vislumbrar os louros do que estes iriam tornar-se - best-sellers mundiais. Mas creio que pelo menos ele conseguiu passar sua mensagem, afinal sua Lisbeth é a mulher forte e decidida que ele queria mostrar aos leitores. Enfim, por que falar a respeito disso e ainda destacar a sua personagem feminina Lisbeth Salander? Começo dizendo que Stieg Larsson, além de influente jornalista, também era ativista político sueco. Marcado por uma vida bem interessante e de muitos conflitos, este sempre esteve na luta contra vários dos temas que sempre nos cercaram - xenofobia, racismo, etc. Pela forte influência que causava (afinal este era acima de tudo um jornalista, tornando o seu ativismo muito mais representativo), sofrera várias ameaças de morte. Mas o que eu destacaria de sua vida que com certeza o marcou demais e foi de forte influência para seu livro e sua Lisbeth, fora aos seus 15 anos, quando presenciou o estupro de uma jovem mulher por uma gangue. Isso ficou marcado na vida de Larsson tão fortemente que pode-se dizer que a série 'Millennium' não é uma coisa nova, na verdade ele pensava nela há muito tempo, entre lutas sociais e ativismo constante, a história estava lá sendo escrita. Ele queria mostrar de alguma forma uma figura que representasse uma mulher agredida pela vida mas que seria forte o bastante para seguir em frente num mundo geralmente dominado por homens, por isso 'Os Homens Que ODIAVAM As Mulheres', sim. Esse é o título original do livro, e que está mais do que certo na verdade, o que eu não entendo é terem decidido substituir no Brasil o ODIAVAM por NÃO AMAVAM. Desde quando NÃO AMAR quer dizer NÃO GOSTAR, ou pior ainda, ODIAR? Ou seja, o título aqui não representa nada do que o livro realmente é. Antes tivessem deixado o título americano 'Girl With A Dragon Tattoo', afinal destaca a Lisbeth e também consegue deixar claro a que tudo veio. Enfim, na trilogia a Lisbeth é uma personagem muito bem retratada, inteiramente complexa e, apesar de seu punkformismo excêntrico, é altamente carismática. E é aí que eu acho que Larsson acertou em cheio, conseguiu criar uma representação à altura para a categoria feminista sem criar clichés (mesmo!) e sem apelar para sexismos altamente aparentes.

  Explicado acerca dos livros, volto-me novamente para o remake hollywoodiano de David Fincher, e aí chegamos na tal misoginia, ou seja, desprezo ao sexo feminino (muitas vezes confundido com machismo). Sim, mas por que ligar isso ao Fincher? Nem eu sei na verdade, mas tudo começou a ficar mais "amplo" em 'A Rede Social'. Hã? É. Não entendo também a polêmica, mas posso dizer que Fincher na verdade é mal compreendido. Eu diria que tudo começa em 'Alien 3', que já retratei no início desse post, e isso porque não vi todos os filmes dele. No mal-falado filme dos aliens bonitinhos, Fincher pega uma personagem já conhecida de longa data Ellen Ripley e decide colocá-la frente-a-frente com um novo desafio - sobreviver numa micro-sociedade machista metida a religiosa num planeta-prisão bizarro e, claro, com o bendito alien à solta. É um contraste absurdo, ainda mais quando você assiste do primeiro filme até este terceiro. A Ripley parece outra. Ela perdeu tudo e agora está sozinha de vez mesmo, e como ÚNICA personagem feminina, além de que a principal ameaça do filme parece ter mudado. Ela precisa se tornar um homem para enfrentar outros homens, é praticamente isso - cabelo raspado, roupa de homem, atitude de homem. Por isso que eu comparo ela à querida Lisbeth de 'Millennium', porque é ela, cuspida e escarrada, só não está grávida de um alien. Enfim, uma típica personagem fincheriana por assim dizer. Como eu já havia dito, 'Alien 3' não está na minha lista de filmes favoritos, mas mais pelo fato de ser um filme que não cumpre o papel de continuar a saga alien macabra do que por qualquer outra coisa. Se ele se chamasse 'Planeta Hell', acho que teria aceito ele muito bem, mas como 'Alien 3' não dá. Porém, como já falei também, não posso negar de maneira alguma que Ellen Ripley virou sim uma personagem mais profunda e complexa. Ela sai de um filme de Ridley Scott, passa por um James Cameron e continua a mesma fugitiva dos aliens - uma mulher que parece ser uma simples boneca manipulada pela Companhia que quer de qualquer forma um espécime alien para trazer à Terra, se bem que James Cameron ainda consegui aprofundá-la bem, pois Ridley Scott apenas criou a personagem, só! Já que a gente somente vem descobrir que Ellen Ripley é protagonista de 'Alien' quando ela fica sozinha na nave. Para mim o robô-doidão era mais protagonista que ela. Daí, quando ela chega em Fincher, vira outra coisa. Ela até faz sexo (hahahahahaha)! Se contar do primeiro filme até esse e os estados criogênicos pela qual passou, somam-se mais de 60 anos sem fazer nada além de sonhar com bichinhos que matam o tempo todo, mas ao chegar em 'Alien 3' ela diz "Estou sozinha há muito tempo". Uma frase tão simples, mas que significa tanto.


 

  Nesta discussão também poderia ser citado 'O Quarto do Pânico', afinal temos Jodie Foster como uma mãe que vai morar sozinha com a filha num apartamento "full of secrets" e depois tem que encarar um monte de ladrões que simplesmente arrombam o local e arrasam com tudo. Ou seja, mãe e filha enfrentando um bando de homens problemáticos. A cara de David Fincher isso. Mas ainda sim, onde que entra a misoginia nisso? É entre essas e outras que percebemos os detalhes de Fincher, principalmente à certas personagens femininas, mas daí a qualificar seus filmes de misóginos, é muito exagerado. Será que pelo fato dele jogar personagens femininas extremamentes fortes num mundo hardcore enfrentando homens (geralmente maus) para torná-las palco de muitos e muitos sentimentos e ótimos diálogos faz dele misógino? Do que eu deveria chamar Lars Von Trier então? Mas não, Von Trier é apenas um cara inteligentíssimo e tão complexo que somente ele sabe para que seus filmes são feitos e a razão pela qual ele sente uma necessidade extremamente doentia de retratar mulheres como demônios encarnados e que merecem sofrer. Aham, e é David Fincher que continua a receber o título Misógino do Ano por cada produção realizada. Façam-me o favor, e vamos rever certos conceitos e rever certos filmes.

  Não acho que 'Os Homens Que Não Amavam As Mulheres' conseguiu retratar a Lisbeth Salander que existe no livro, pois acreditem, ainda tem muito mais da personagem a ser posto à prova, mas mesmo assim cumpriu bem a tarefa. Pode-se dizer que serve como piada do próprio diretor fazendo um filme que trata de um turbilhão de misoginias, afinal a história fala realmente de homens que odeiam as mulheres do início ao fim. É tenso, contém cenas fortes, mas que precisam estar ali e com certeza são colocadas no momento certo, portanto um filme que merece ser assistido, não só por ser baseado num livro famoso e nem pelo fato de ser feito por um diretor famoso, mas porque tem um bom mistério que permeia complexas relações interpessoais em lindos (e frios) cenários suecos. Vale muito à pena!

  E é isso pessoal, mais um post gigante, mas pela primeira vez trouxe uma resenha de algo. Nem quero pensar em quando eu fizer uma de um jogo hahahahahahah, medo. Mas espero que tenham gostado e que, pelo menos, tenham conseguido captar algo para pensar um pouco a respeito de temas tão brutais de nossa sociedade. Peço desculpa por ter falado demais de 'Alien', mas não poderia falar de Fincher sem citá-lo. Que bom que não falei sobre 'Seven - Os Sete Crime Capitais' então. ;)

Até o próximo post!


8 comentários:

  1. Tô louca pra ver esse filme, agr que sei que é bom, então.. :)
    Que crítica gigante, non? Fez questão de explicar até os personagens! Achei massa, mesmo não tendo assistido a maioria dos outros filmes! HSUAHSUAHS
    Agora é correr pro cinema! ;)

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    1. Valeu, Sy! Essa crítica acaba sendo na verdade mais da história em si (livros e filmes em geral) do que somente voltada ao remake americano. E já que não conhece os outros filmes, fikdica! HAHAHAHAHAHAHAH. E agora espero sempre comentários! ;)

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  2. Bom, reescrevendo meu comentário... (agora em formato enxuto) heheh

    A crítica ficou muito boa, cheeia de detalhes e explicações que nos dá uma noção da trama...
    Eu, que nem sabia da existência desse filme, fiquei com muita vontade de ver.
    Assim que assistir volto aqui pra deixar minha impressão (bem menos entendida e fundamentada) sobre o filme.

    Arrasou, Dani!
    Parabéns!

    Beeijo

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    1. Valeu, Tay! Agora aguardarei sempre os comentários, hein? hahahahahahahahhah. E 'agora em formato enxuto' foi ótimo! Queria ver a versão full. =z hahahahaha

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  3. Dani, prefiro as tuas explicações no ônibus, são mais diveridas e dinâmicas !!!! hahahahahaha Adorei a crítica, já conhecia os livros e esatav esperando o filme, porém não tive oportunidade de ler os livros, AINDA, em breve irei devorar a trilogia =P

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    1. Ahh, não dá para comparar às explicações 'in-bus' não, mas tá valendo! HAHAHAHAHAHAHAH =P

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  4. Oi Dani, neste domingo tranquilo vim atender ao convite de ler seu blog e confesso que estou de boca aberta!

    Está muito bom!!!! e fico imaginando/relembrando de como é vc dizendo tudo isso ao vivo...hahaha! De toda forma vc consegue nos deixar com vontade de ver os que não vimos ainda!

    Parabéns!

    P.S.Da próxima vez não espere rasgação de seda, viu seu mocinho...hahaha

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    1. HAHAHAHAHAHA Valeu, Van! Espero sempre sua visita agora! ;)

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