domingo, 22 de setembro de 2013

Bates Motel (2013) - e se Psicose tivesse começado assim?


 Admito que queria falar desta série desde o seu término (a primeira temporada), há alguns meses atrás, pois achei-a fenomenal. Mas sei lá, não era o momento. Agora, estava eu a refletir e veio um estalo "Cadê a crítica de Bates Motel para o blog?!". Creio que este seja o momento certo - depois de alguma calmaria, e com um Outubro que vai vir com muitas estreias (macabras, diga-se de passagem), então serve até de aperitivo (ainda mais para quem ainda não viu a série!). Com um elenco que me surpreendeu, e com uma história interessantíssima, temos aqui o prelúdio de um clássico do cinema - Psicose (Psycho; 1960), do mestre do suspense Alfred Hitchcock. Quem não conhece o filme, e o diretor, se mate vá pesquisar que ainda há tempo. ;) E vamos à análise.


 Eu não acredito que ainda hoje exista alguém neste mundo que não conheça Psicose (ou sequer tenha ouvido falar). Muito menos que desconheça o seu diretor, Alfred Hitchcock, afinal o gordinho é o mestre do gênero Suspense e este é considerado o seu mais famoso filme (há quem diga que é Os Pássaros, mas eu discordo). Mas como irei falar desta recente série que se propõe a ser um prólogo do filme, então acho necessário falar do mesmo. Mas não irei divagar sobre o clássico, senão acabaria falando demais. Somente irei esclarecer alguns pontos e dar esse flashback que abrirá caminho para Bates Motel. Certo?

 Psicose (o filme), para quem não sabe, foi adaptado do romance de mesmo nome do escritor Robert Albert Bloch, de 1959. Segundo o Wikipédia, Hitchcock comprou os direitos do livro anonimamente por onze mil dólares, e ainda comprou todas as cópias do livro disponíveis no mercado para que ninguém o lesse (hahahahahahah, coisas de Hitchcock!). No decorrer de todo o processo de filmagem, o diretor gastou 800 mil dólares com o filme que, no final, lhe rendeu "meros" 50 milhões de dólares nas bilheterias do mundo inteiro. Agora, depois da curiosidade, vamos ao roteiro e resumo. Retirei do Wikipédia este resumo bem direto acerca do filme, pois dele já posso sair comparando algumas coisas com a série e falar sobre outras coisas no caminho. Novamente, este é o resumo de Psicose, e mesmo eu tendo cortado algumas partes - inclusive o final bomba - ainda é um mega spoiler para quem não o assistiu (de que planeta você veio? Eu sempre acreditei em alienígenas!).


 "Psicose começa com a secretária Marion Crane (Janet Leigh) dando um desfalque de 40 mil dólares na imobiliária onde trabalha. É uma tarde quente de sexta-feira e ela pede licença ao patrão para sair mais cedo, e leva consigo o pacote contendo o dinheiro, certa de que seu crime somente seria percebido após o final de semana. Com pouco mais de dois dias para fugir, Marion sai dirigindo sem destino pelas estradas. Cansada, vai parar no Motel Bates, um lugar decadente, que quase fechou suas portas após o desvio da autoestrada. Lá, é recepcionada por um simpático mas estranho e tímido rapaz, Norman Bates (Anthony Perkins), totalmente dominado pela mãe. Norman convida Marion para comerem um sanduíche com leite em sua casa, mas e mãe de Norman briga com ele, e eles comem em uma saleta. Depois disso, Marion decide tomar um banho, mas é brutalmente esfaqueada pela mãe de Norman, no chuveiro. Preocupada, a irmã de Marion, Lila Crane (Vera Miles), faz de tudo para tentar encontrar a então desaparecida Marion, junto de seu namorado, Sam Loomis (John Gavin) e o detetive Arbogast (Martim Balsam). Mas, quando este tenta falar com a mãe de Norman, a própria o assassina com facadas. Depois, Lila e Sam vão até o xerife da região, Al Chambers (John Mclnte), e ficam sabendo que a mãe de Norman estava morta há mais de dez anos. Eles então decidem ir até o motel, e descobrem algo impressionante, o que faz esse filme fez ser um dos melhores filmes de Alfred Hitchcock."


 Agora, chegamos na série em si. Bates Motel, como já falei, serve de prelúdio para a história tratada em Psicose. De que forma? Contando como teria sido a vida de Norman Bates e sua mãe, Norma Bates, antes dos acontecimentos do filme. Ou seja, a trama conta como Norman (Freddie Highmore) desenvolveu seu lado sombrio e psicótico entre a infância e a adolescência, explicando como o amor de sua mãe, Norma (Vera Farmiga), ajudou a moldar esse seu lado maníaco. Narrando eventos, situações, mostrando personalidades e outras coisas que teriam passado por suas vidas e, claro, pelo Bates Motel.

 Tudo começa na casa da família Bates. Norman acaba encontrando seu pai morto na garagem de casa e entra em estado de choque, mas a sua mãe, Norma, não parece estar tão estarrecida com o ocorrido e a partir daí já demonstra como é uma pessoa fria e, aparentemente, calculista. Toda a cena nos leva a crer em várias hipóteses, mas não se assustem, provavelmente vocês irão errar nas explicações futuras que a série dará para certas coisas aqui. Fica a dica. Depois do estranho acidente e de herdar certa quantia em dinheiro, Norma decide que é hora de mudar-se. Mas não somente mudar para outra casa. Tem que ser em outra cidade, com tudo novo, vida nova literalmente. Os dois então se mudam para uma nova cidade, onde Norma comprou um motel abandonado em uma tentativa de dar uma nova chance a ela mesma e ao filho. E o conflito de sentimentos entre eles não demora a ser apresentado para o espectador.

 Adolescente de 17 anos, Norman não recebe bem a mudança, mas pouco contesta a mãe. E ela, por sua vez, não aprova a ideia de ver o tímido rebento longe dela, chegando a fazer chantagens emocionais com o rapaz. Essas chantagens vão sendo mostradas quase que a todo momento na série, somente destacando como Norma consegue manipular perfeitamente o seu filho, invertendo situações e sempre se colocando como vítima. O relacionamento atribulado vai aos poucos ganhando contornos edipianos*, com cenas que sugerem sutilmente uma tensão sexual entre Norman e a mãe - logo na primeira noite da mudança, ele observa Norma pela janela e a vê apenas de calcinha e sutiã. Isso realmente precisava existir na série, afinal o filme nos mostrou um homem totalmente obcecado pela mãe de todas as formas possíveis. Apesar de que, na série, eles poderiam ter criado outra abordagem, ou simplesmente dizer que o Norman era maluco e pronto, mas preferiram ir pelo caminho mais turbulento e polêmico. E isso ficou ótimo, pois resolveram encarar o desafio, criando uma trama altamente complexa no que diz respeito a esse jogo de sentimentos atrelados à transtornos mentais (não só pela parte do Norman, afinal eu diria que sua mãe é o real foco da série), e foi uma empreitada que funcionou perfeitamente. Ainda mais com as incríveis interpretações de Freddie Highmore (aquele que fez a criancinha mega inocente da nova versão de A Fantástica Fábrica de Chocolate, sim!) e Vera Farmiga (indicada ao Oscar por Amor Sem Escalas).


 Como já falei um pouco, eu enxerguei como o centro da série a Norma Bates, e não o Norman. E talvez isso seja realmente algo proposital dos produtores, afinal, no filme, já temos Norman do começo ao fim. Então, na série, por que não centralizar a Norma e suas maquinações manipuladoras? Claro que outras pessoas podem ter visto de forma diferente, afinal o Norman aparece tanto quanto a Norma, mas eu insisto no fato de que a presença da Norma, a todo momento, é muito mais marcante (isso se torna ainda mais forte pela maravilhosa interpretação da Vera Farmiga, mesmo!). Não estou dizendo que o Norman não significa nada, ou que temos uma série sobre como a Norma deturpa todos os contextos e sempre manipula seu filho (o que não deixa de ser verdade), não. Estou dizendo que, na série, resolveram abrir esse espaço maior para a personalidade que realmente sempre causou uma imensa curiosidade para nós (fãs de Psicose). Ou seja, quem na verdade era a mãe do Norman? Queríamos ver esta figura que tanto ajudou a moldar um dos psicopatas mais famosos da história do cinema, mesmo já sabendo do final trágico que a história tem, mas queríamos saber deste início.

 Certo. Já ficou claro que sou fã da Vera Farmiga e de sua magistral Norma Bates, mas agora vamos falar do contexto da série. O Norman está naquele momento da vida em que tudo parece ter um milhão a mais de significância. Seja pela idade, ou pelos acontecimentos recentes, mas o estresse parece estar atingindo todos os limites do jovem. A partir de certas situações, o Norman já começa a mostrar sinais de esquizofrenia e de como a sua mãe somente ajuda no aumento deste seu descontrole emocional. E pior, ela sabe disso. A série mostra, muito bem, os conflitos internos que o rapaz enfrenta (aqui destaco a interpretação do Freddie - um ator que eu não apostava nem um Big-Big mastigado - que está muito boa!), e vai passar por vários momentos escolares, amorosos, conflituosos, etc, que ele irá encarar.


 É aqui que eu aproveito para falar dos outros personagens da série, afinal não temos somente Norma e seu filho, "felizes" administrando um motel. Também temos o irmão mais velho do Norman (sim!), o Dylan Massett (Max Thieriot), que irá aparecer - se não me engano! - no segundo capítulo. Ele é irmão do Norman apenas por parte de mãe, e já chega na série causando transtorno. Um rapaz com um jeito revoltado e que, de forma bem direta, diz odiar a mãe. Afinal ele conhece muito bem o jeito manipulador da Norma e sabe do que ela é capaz. Ele é o total oposto do Norman, mesmo. Entre muitas escolhas erradas, ele acaba acertando de vez em quando. Um personagem fixo e também muito importante para a história, ele vai participar de muitos conflitos entre o Norman e a Norma, pode apostar. Eu diria também que ele é aquele personagem que uma hora estamos odiando, e na outra estamos adorando.


 Temos também a Emma Decody (Olivia Cooke), uma menina peculiar, muito inteligente e, assim como o Norman, também tem 17 anos e estuda na mesma escola que ele. Ela tem fibrose cística* (por isso sempre anda carregando seu tubo de oxigênio enfeitado) e, como ela mesma diz, tem uma "alma velha". Ela tem uma paixão quase imediata pelo Norman e está sempre aparecendo em sua porta. Eu, sinceramente, odeio a Emma. Ela é uma stalker, muito intrometida, e sempre faz as coisas por impulso, mesmo sabendo das suas diversas limitações. É incrível como uma personagem que, na verdade, deveria causar compaixão, apenas acabou me afastando. Apesar de que ela melhora muito no decorrer da série, mas para mim já era tarde demais. Eu deixei ela numa jangada furada e segui adiante com os outros personagens mesmo. A única coisa legal que achei em relação à personagem foi a grande sacada dos produtores em torná-la a protagonista de uma coisa meio spin-off da série. No andamento da série, a qualquer momento, podíamos acompanhar o blog (sim, ela é blogueira!) da Emma relatando sua investigação pessoal a respeito das intrigas de sua cidade e como ela tem interpretado seu relacionamento com o Norman. Isso tudo somente acabou tornando o universo da série ainda mais verdadeiro. Eu simplesmente adorei isso.

 Nesse meio turbulento da corrupta e sorrateiramente caótica cidade, temos o corpo policial comandado pelo xerife Alex Romero (Nestor Carbonell) e o policial Zack Shelby (Mike Vogel). Duas personalidade misteriosas que vão, com o passar do tempo, revelando ser muito diferentes do que suas aparências anunciavam. São muitas surpresas! Este é outro ponto em que a série acertou em cheio - momentos climáticos e de grandes revelações. Pode esperar, pois no decorrer dos 10 episódios muita coisa vai mudando e o final talvez passe longe do que você imaginou. Por último, cito também como personagem importante a Bradley Martin (Nicola Peltz), uma garota rica, linda, e que, aparentemente, se mostra uma ótima amiga para o Norman. Mas nem tudo são flores. Ela vai se revelar uma afiada faca em meio a um tornado. Ah, e não posso esquecer a psicóloga da escola, a Miss Watson (Keegan Connor Tracy). Ela não é tão importante, mas terá seus momentos na jornada do Norman e seus delírios.


 Os cenários utilizados na série são bem, tempestuosos, eu diria. Até macabros e, geralmente, com muita neblina. Bates Motel foi filmado em Aldergrove, no entanto, é situado na cidade fictícia de White Pine Bay, no Oregon. O conjunto para o lar original está localizado no Universal Studios em Hollywood, na cidade de Los Angeles, no entanto, uma réplica foi construída em Aldergrove, onde a série é filmada. A trilha sonora acompanha cada momento dos personagens com muita precisão, mesmo não sendo o real destaque técnico - isso fica a cargo da Fotografia mesmo, e da excelente direção das cenas.

 Vale ressaltar algumas outras coisas. A relação da série com o filme de Hitchcock não está apenas na trama principal. Na estreia, cenas relacionadas ao banheiro onde foi gravada a mais famosa cena de assassinato do cinema e à estrada onde se situa o motel dialogam diretamente com o longa, não só homenageando Hitchcock, mas também lembrando qual será o destino de Norman Bates. Outra coisa legal é que Carlton Cuse (criador da série) citou o drama da série Twin Peaks (que simplesmente amo) como uma inspiração fundamental para Bates Motel, afirmando: "Nós praticamente arrancamos Twin Peaks..... Se você queria uma confissão, a resposta é sim, eu amei esse show que só fez 30 episódios. Kerry Ehrin e eu pensamos em fazer o plano que faltava". Está aí uma das respostas para o fato de eu gostar tanto da série (hahahahahaha!). Outra curiosidade é que o escritor da série Bill Balas realmente tem fibrose cística, e foi a inspiração para a personagem Emma Decody sofrer da doença.

 A série é do canal norte-americano A&E, que decidiu encomendar 10 episódios para a primeira temporada. Estreou no dia 18 de Março, e em 8 de Abril de 2013 o A&E renovou Bates Motel para uma segunda temporada, depois de críticas favoráveis ​​e fortes classificações. Ela vai ao ar em 2014, e as filmagens começarão no verão de 2013 (viva!!). Ou seja, você ainda tem um bom tempo para correr e assistir à série, se ainda não viu! Vale muito a pena conferir, digo logo! Ela fora adquirida pelo canal Universal Channel aqui no Brasil, mas não sei se ainda está passando. Talvez esteja, é apenas uma dica. E depois desse longo post (afinal a série merece), despeço-me. Espero que tenham gostado e lido até aqui (hahahahaha). Forte abraço e até a próxima!

Termos:
*EDIPIANO: Ref. ao complexo de Édipo, i.e., atração erótica que, segundo a teoria psicanalítica de Freud, o filho sente pela mãe (paixão edipiana).
*FIBROSE CÍSTICA: é uma doença hereditária comum, que afeta todo o organismo, causando deficiências progressivas e, frequentemente, levando à morte prematura.



2 comentários:

  1. Curti o texto bem explicativo me deu vontade de ir assistir, continue com seus otimos reviws

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    1. Obrigado, Shadongo! É sempre bom ler comentários assim. Pode ficar ligado no blog que novos textos virão. ;)

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