domingo, 15 de setembro de 2013

The Great Gatsby (2013) - um mix noir de glamour, drama e uma trilha sonora impecável.



 Sendo bem sincero com vocês, eu não acho que esta nova adaptação para os cinemas do clássico livro 'O Grande Gatsby' seja lá grande coisa e, convenhamos, Baz Luhrmann (Moulin Rouge - Amor em Vermelho) não é lá essas coisas na Direção, apesar de competente em saber iluminar e animar até beco em dia de eclipse. Aí você se pergunta "Ok, Daniel. Então por que fazer esta análise do filme?". Bem, em minha defesa eu destaco algumas coisas no longa que me fizeram achá-lo merecedor de alguns holofotes: Fotografia (afinal é Baz), interpretações (tem leite sendo tirado de pedra aqui, sério!), trilha sonora de cair o queixo (só pode ter sido escolhida a dedo) e, o melhor de tudo, Baz conseguiu transformar um livro pesado em uma glamourosa festa noir de primeira. Quer saber mais? Então vamos lá.



 Como já falei anteriormente, Baz Luhrmann realmente sabe dar uma festa. Quem assistiu 'Moulin Rouge' sabe do que estou falando. Mas a verdade é que não sou fã do diretor. Em alguns acertos consideráveis, ele faz mais cagadas que sei lá o que (Australia, alguém?!). E a cruel verdade é que o único grande filme do diretor fora mesmo Moulin Rouge. Fato. Mas aí chega 'O Grande Gatsby', e mais uma vez eu me surpreendo (de uma forma boa!) com o cara.

 Se eu queria ver o filme desde que fora anunciado? Sim. E a primeira coisa que me chamou a atenção foi o elenco. Não vou negar que sou fã da Carey Mulligan (eu, até hoje, não consigo acreditar que ela é a garota apagada da versão para os cinemas de Orgulho e Preconceito - 2005, sério!), e estava esperando muito dela neste filme. Leonardo Dicaprio vem melhorando sua atuação consideravelmente no decorrer dos anos, eu estou surpreso, e por isso também esperava muito dele. Tem também a Adelaide Clemens e a ótima Elizabeth Debicki (que quando aparece rouba a cena). Não vou citar Tobey Maguire porque o cara é um pastel de vento. É uma coisa que com certeza eu mudaria neste filme, afinal ele interpreta o Nick Carraway, o protagonista que vai narrar e participar de praticamente todos os fatos da história. Tinha que ter presença. E ele só sabe fazer aquela mesma cara de mamão de sempre. Mas tudo bem, até nisso eu consegui me surpreender no filme, pois ele tem seus ótimos momentos. Por incrível que pareça.

 Outra coisa que me fez aguardar este filme: eu estava esperando momentos climáticos como em Moulin Rouge, mesmo sabendo que o filme não seria um musical (os trailers foram impecáveis). Se estes momentos existem? Sim! Porém de uma forma totalmente diferente. Enquanto Moulin Rouge exala adrenalina nas suas cenas dançantes e glamourosas, The Great Gatsby enfatiza no glamour com muito mais calma e compasso. Tudo bem que as festas oferecidas pelo Gatsby são impactantes e são, de fato, os destaques do filme, mas sempre há muito drama envolvido no contexto para simplesmente repararmos nas bebidas e confetes. Pelo menos foi assim comigo. Então eu aguardei e, com certeza, esperava muito mais do filme, isso já deve ter ficado claro, mas mesmo assim eu gostei. E vamos agora rumo ao roteiro.


 The Great Gatsby (o livro) trata de Nick Carraway. Um jovem comerciante de Midwest que, inesperadamente, torna-se amigo de seu vizinho Jay Gatsby, um bilionário conhecido pelas festas animadas que sempre dava na sua mansão em Long Island. A fortuna de Gatsby sempre fora motivo de rumores; nenhum dos convidados que Nick conhece na festa de Gatsby sabe muito bem sobre o passado do anfitrião. Nesse meio temos também Tom Buchanan, um antigo atleta universitário abastado e velho amigo de Nick, o qual casara com sua prima Daisy. Esses são praticamente os protagonistas da trama, que circundam no romance sempre através das falas de Nick. Não quero e não irei fazer uma crítica ou resumo do livro, mas acho necessário fazer certas comparações com o longa de Baz, afinal são exatamente estas comparações que fizeram com que o filme se colocasse num patamar tão ambíguo em relação à crítica. De um lado temos pessoas que adoraram o filme exatamente por ele ter transformado o livro, já outras o abominam porque ele ocasiona essa transformação. Então vamos aos porquês e mimimis e o que eu realmente acho de toda esta história.

 O romance relata o caos da Primeira Guerra Mundial. A sociedade americana vive um nível sem precedentes de prosperidade durante a década de 1920, assim como a sua economia. Ao mesmo tempo, a proibição de produção e consumo de bebidas alcoólicas, ordenada pelo 18º aditamento, fez grande número de milionários fora do circuito de venda de mercadorias e provocou um aumento do crime organizado. Ou seja, esse é o contexto pesado em que a trama acontece. Aí, para relatar estes acontecimentos, temos cinco (!!!) adaptações do livro para os cinemas, isso claro, somando-se a esta nova. Não assisti a todas (vi a de 1974, 2000 e 2013), mas posso dizer que sim, a nova em nada se parece com as anteriores, que vêm tratar do contexto como ele "merece".

 É este ponto que quero focar, pois é exatamente aqui que os pratos da balança começam a tilintar. O que pesa mais numa adaptação de um livro, ainda mais de época, que trata de um contexto tão complexo? No caso de The Great Gatsby eu responderia "O momento!". Por quê? Vejamos. Já temos quatro adaptações anteriores a esta, e todas tratam do livro no seu passo-a-passo (acho que, para quem quer "assistir" ao livro, tem que ver mesmo a versão de 1974, com certeza). Então, por que criticar Baz Luhrmann pelo fato de ter dado um foco diferente ao livro? Isso tornou a coisa chata e sem lógica? Longe disso. Temos aqui sim, algo diferente e que merece consideração. Mas infelizmente algumas críticas especializadas mantêm-se carregadas de pseudo-entendedores que acham que se não for fiel não vale a pena.


 Se fosse assim, o que seria da nova versão de Anna Karenina (Joe Wright) ou até mesmo Pride & Prejudice (também de Joe Wright)? São excelentes versões, mesmo modificando contextos e atenuando outras situações. Agora, claro, são também exemplos de filmes que já tiveram adaptações anteriores (e no caso de Pride & Prejudice, é mais famoso nas séries televisivas). Então tudo precisa ser equilibrado: Diretor, momento e o grau de mudanças que ele vai fazer. Não é simplesmente dizer "É ruim porque ficou diferente!". Não, pare aí mesmo.

 Querem um exemplo de algo que muda do livro de F. Scott Fitzgerald para as telas nesta nova versão de The Great Gatsby? Vejamos. Algo bem significativo: no livro, Nick Carraway em seu romance (o qual ele está escrevendo na história), idolatra os ricos e o glamour da época, mas ele não se conformava com o materialismo sem limites e a falta de moral, que traziam consigo uma certa decadência diante de todo aquele cenário. Já no filme (2013), Nick (Tobey PastelGuire) parece tão envolvido com todo aquele processo, mesmo internado num hospital psiquiátrico, e ainda se vê nas festas e idolatrando o Jay Gatsby. Ou seja, em nenhum momento temos um Nick crítico, que pondera no seu romance os pontos de uma sociedade que causa vergonha aos seus olhos. Não. O foco sempre acaba sendo Jay Gatsby, e claro, Daisy. Mas esta foi a versão "mágica" e com muitos holofotes que Baz quis dar ao seu filme. Destacando seu elenco estrelado no decorrer do processo. Eu realmente não imaginaria o diretor fazendo algo diferente disto. Seria até estranho. Talvez como ficou Australia, onde ele tentou a todo custo ser "sério" fazendo um filme "escrito para o Oscar" e morreu na praia antes mesmo de chegar. Eu acho que em The Great Gatsby ele acertou a mão e pronto.

 Agora, passada a crítica acerca dos motivos de certas choradeiras, vamos ao elenco e às partes técnicas.


 Já falei bastante do elenco, eu sei, mas não especificamente. Todos já sabem (admito, afinal ficou claro!) que Tobey Maguire foi uma porcaria no papel de Nick Carraway. Mas eu preciso destacar alguns pontos que conseguem manter o rapaz fora da lixeira em alguns momentos. Baz Luhrmann, com certeza, queria um Nick deslumbrado, inocente e com cara de pastel mesmo. Então ao escolher o Tobey, fez a escolha certa. Ele realmente faz o que o papel demanda e pronto. Apesar de parecer apaixonado pelo Jay Gatsby em vários momentos, mas é exatamente este o Nick do filme, com uma idolatria que acaba sendo gerada por aquele homem que tudo consegue e nada teme e ainda se mantém íntegro (pelo menos aos seus olhos). Uma amizade que supera limites, e isso é mostrado até o final do filme. Então aqui temos o primeiro exemplo de como tirar leite de pedra. Já Carey Mulligan, ela é uma excelente atriz, mas aqui não conseguiu se sobressair, e claro, eu culpo o próprio Baz. A Daisy aqui é tão sem graça e sem vida que parece, a todo momento, apenas servir de boneca de pano para os machismos do seu marido (Tom Buchanan), que manda e desmanda nas situações. O pior disto tudo é que ela sempre parece que vai se revoltar, gritar, se mostrar, mas é pura aparência. Aí ela surge com aquela voz rouca e quase morta e se senta num sofá próximo, cansada.

 Leonardo Dicaprio consegue aqui subir mais um patamar em sua carreira de "ator merecedor de atenção", mesmo. Como em Ilha do Medo (até agora eu considerava a sua melhor interpretação), ele se mostra multifacetado e cheio de caras e bocas. O seu Gatsby ficou ótimo. E chegamos agora ao que podemos chamar de elenco secundário. Joel Edgerton consegue fazer alguns milagres com seu Tom Buchanan, Isla Fisher é uma incrível Myrtle Wilson, Adelaide Clemens aparece somente por alguns minutos em uma cena mas está ótima, e temos a Elizabeth Debicki, que interpreta uma famosa tenista chamada Jordan Baker (amiga do casal Tom e Daisy, e eu diria que tem um papel considerável no livro) e está excelente, fato que acabou tornando-a minha personagem favorita! Ou seja, eu diria que The Great Gatsby é o filme dos papéis secundários, ponto.


 E, com festas arrasadoras, e vistas panorâmicas de cair o queixo, temos a companhia de uma bela Fotografia, instalações noir incríveis e paisagens exuberantes. Só de ver certos locais dá vontade de estar lá também, principalmente a baía em frente à mansão (palácio) de Jay Gatsby, ou os jardins imensos da casa de Tom Buchanan (que, tenho quase certeza, são efeitos especiais). Daí, em meio a tudo isto, chegamos naqueles momentos em que cenas precisam ser destacadas, e nada melhor do que uma boa música para acompanhar. Isto The Great Gatsby tem de sobra! Seja nas festas, com sua trilha mais frenética, seja nos olhares ou diálogos amorosos, sempre existe a música certa. Este é exatamente o ponto no qual eu não tenho uma crítica ruim sequer ao Baz, pois ele acertou em cheio. Destaco as músicas de Lana Del Rey (Young and Beautiful) - muito boa, The xx (Together), Florence and the Machine (Over the Love) e, claro, Jack White (Love Is Blindness). Aqui fica um trailer que fala exatamente deste mix de excelentes músicas utilizadas no filme.


 Então é isso. Eu nunca pensei que faria a análise de um filme do Baz Luhrmann, mas aí está. Com um equilíbrio considerável de erros e acertos, o filme consegue ser muito bom. Isso talvez mostre que o diretor está conseguindo amadurecer (mesmo que tardiamente) e promete títulos interessantes daqui pra frente. Veremos! Abraços e até o próximo post!

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