domingo, 13 de outubro de 2013

Gravidade (Gravity; 2013) - um conto espacial tenso, dramático e imperdível!


 Quando eu vi o primeiro anúncio de Gravity, fiquei impactado com alguns detalhes: Alfonso Cuarón na direção, a tensão absoluta do trailer e Sandra Bullock interpretando uma cientista séria muito fud ferrada no espaço. Pensei logo "Cuarón com esse filme, sério? Aquilo era mesmo Sandra Bullock?! Não acredito. E que trailer foda! Simples e fantástico ao mesmo tempo!". E assim começou a minha ansiedade para ver esta produção quase que misteriosa. Aviso logo que a espera valeu a pena, com certeza. Com um elenco (mínimo - 2 pessoas e a voz representando Houston) afinado e uma direção magnífica com tomadas deslumbrantes do tão distante Espaço, este filme vai te fazer pensar duas vezes antes de tentar seguir a carreira de astronauta. Vamos aos detalhes da obra.

Sandra: "Acreditas que eu estou aqui? E que sou a top do filme? Vou mostrar que sei atuar, eu posso!"; Clooney: "Estais ligada que isso é uma armadilha, né? Tu vai se fufu, aviso logo. E o único astro aqui sou eu, fica na sua aí!"; Sandra: "Eu ganhei um Oscar, me respeite!"; Clooney: "Por aquele filme biográfico chato? HAHAHA! E eu tenho DOIS Oscar, te fecha!"; Sandra: "ARGHHHHH! Odeio o fato de que você parece simpático com esse sorriso falso até quando está me detonando! Maldito!"; Clooney: "Eu achava que a Miss Simpatia aqui era você, haha!".
 O último filme de Alfonso Cuarón foi Filhos da Esperança (isso foi de 2006, mas ele estava meio sumido porque resolveu perambular pelo mundo da televisão), e na verdade eu não tinha gostado muito, mas até que vale a pena. Não sei, mas essa entrada do diretor num mundinho mais "comportado" do Cinema, ou seja, a linear Hollywood (isso começou com Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban), mesmo com pontos críticos e uma possível discussão política, o diretor tinha mudado desde E Sua Mãe Também, demais. Claro que muitos querem sempre alcançar novos ares, mudar os temas e tal (além do dinheiro falar mais alto na maioria das vezes), mas sei não. Eu já estava achando que Cuarón tinha ficado defasado, ponto. Não esperava mais uma coisa realmente diferente dele (talvez uma outra ficção científica e ponto?). Recordei agora de um filme que marcou a minha infância: A Princesinha. Junto com 'O Jardim Secreto' e 'Abracadabra', tornaram-se meus vícios e, até hoje, eu assisto sempre que posso. Mas retornando para A Princesinha (1995), aquele era o primeiro filme em que Cuarón encarava Hollywood, e fez isso tão bem. Um filme que consegue ser mágico, e permear entre a inocência e a crueldade. Quem não assistiu ainda, assista! Mas onde eu quero chegar com isso? Alfonso Cuarón sempre foi um diretor que, no lugar onde chegava, ele radicalizava. Sempre tinha algo diferente para mostrar, tanto para adultos quanto para crianças. Mas isso havia mudado, talvez porque tentaram cortar as asinhas dele, sabe-se lá. Mas a verdade é essa, eu não via mais aquela coisa que só o Cuarón sabia fazer (até o Harry Potter 3, que é um livro bem sombrio, não conseguiu ficar bom no cinema, e ainda foi curto! Não dá pra acreditar que foi ele quem o dirigiu. Deviam ter pego Guillermo del Toro para o trabalho, haha!). Mas tá bom, deixa de flashbacks e críticas ruins, vamos ao que interessa: o presente. O diretor voltou com tudo: Gravidade!


 Aqui não temos crítica à sociedade, não temos um futuro distante, não temos modismos. Gravidade é um filme que vai direto ao ponto sendo criativo ao cúmulo. Como? Cuarón conseguiu transformar uma coisa simples (um acidente em pleno Espaço, durante uma rotina típica para astronautas, que poderia estar presente em qualquer história) em algo sublime e cheio de momentos épicos. E, diga-se de passagem, muita tensão. Outra coisa que ajudou, e MUITO, o funcionamento do longa foi o perfeito entrosamento do elenco: Sandra Bullock e George Clooney ficaram perfeitos em seus papéis. Sério! Eu sempre gostei da Sandra, apesar de ter certas críticas a ela pelo fato da moça nunca sair do seu "mundinho seguro" das dramédias, dromances e comances. Eu sempre enxerguei mais potencial nela, mas ela acabou ficando marcada pelos seus papéis ridículos em filmes que não a respeitavam como atriz. Daí, sempre que ela aparecia em algum filme de peso (Crash - No Limite, por exemplo), ela mostrava que sabia o que estava fazendo ali e que tinha valor. Com o seu "recente" Oscar por The Blind Side (Um Sonho Possível), ela conseguiu mais respeito diante do círculo máximo do Cinema (mesmo que por um papel infame, pois o filme é chato! Ela havia merecido muito mais o prêmio há alguns anos atrás, por 28 Dias. Por incrível que pareça!). Enfim, Sandra está perfeita aqui na direção focada de Cuarón. O filme É dela, e pronto. George Clooney, esse sim foi um ator do qual nunca gostei, digo logo. Mas, na verdade, não o suporto como pessoa mesmo. Um cara muito cheio de si e que despreza por pouco. Talvez isso se deva pelo fato do cara ser, ao mesmo tempo, ator e diretor, e sempre saber o que faz, além de ser muito respeitado. Mas, mesmo assim, não é desculpa para ser ridículo. Por causa disso, acabo não indo com a cara dos seus personagens, apesar de admitir que ele atua - e dirige - muito bem (não toda vez, mas na maioria delas). Ele sabe tirar leite de pedra de qualquer papel, é incrível (Amor Sem Escalas, por exemplo, ou até o recente Os Descendentes). Ele ganhou dois Oscar, um por Syriana e outro por Argo (direção), e aqui temos mais um caso de "ganhou o prêmio por atuar num filme que não tinha tanto potencial assim". Mas o Oscar funciona assim mesmo, é de momento e o que estiver mais na moda é que leva. Triste. Enfim, Clooney em Gravidade também está no tom perfeito, apesar de somente servir de suporte para a Sandra, essa é a verdade. Como mencionei antes, o filme é dela.


 Gravidade está repleto de efeitos especiais, isso é um fato. O filme, praticamente, só não simula o seu elenco, mas de resto é tudo de mentirinha. Mas isso não reduz o filme, não mesmo. Não é como Matrix Revolution, que tinha tanto efeito que acabou se perdendo entre suas entranhas de mentira. E, o mais engraçado, é que Gravidade tem tanto efeito, mas tanto, e ainda assim não é pretensioso. É incrível. É como falei antes, tudo aqui poderia acontecer, de fato, para um astronauta. Então você não espera nada mais do que acidentes naturais, como uma tempestade solar, pedaços de satélite vagando a esmo, ou algo do tipo. Você sabe que não vai ter uma nave alienígena chegando do nada com seres sedentos ou a descoberta da origem da vida (alfinetada Prometheus? haha!). Tudo anda naturalmente e flui muito bem, sem desejos de alcançar outra galáxia. Mas então isso quer dizer que o filme não tem surpresa alguma? Mas é claro que tem! E muitas! Sente-se na cadeira, sinta a angústia daqueles astronautas e espere uma jornada de ponto-a-ponto para um retorno seguro à Terra. Esse é o desejo dos protagonistas, retornarem sãos e salvos para a Terra. Esse é o foco do filme. Apesar de que, mesmo depois do que falei aí, eu ainda fiquei esperando a nave alienígena, pois é tanta coisa que vai acontecendo no filme, naquele Espaço onde cada ponto parece tão próximo, que você ainda sim espera mais (hahahahaha). E isso não deixa de ser bom. Além do fato da Ryan (Sandra Bullock) permear sempre entre uma fraqueza absoluta e uma força interna impossível, ou da antipatia ao total carisma, fazendo com que a personagem só se torne ainda mais real. Você torce por ela, do começo ao fim. Você a vê caída e manda ela se levantar. É tanta coisa pela qual ela passa que não tem como (para quem assistiu, claro) não comparar com o filme Arraste-me para o Inferno (Drag Me to Hell; Sam Raimi), e lembrar do que a protagonista passou. Claro que estamos falando da comparação entre um drama sci-fi e um horror gore, mas aqui temos representantes únicas da força feminina no cinema, que come o pão que o Diabo amassou mas consegue se reerguer sempre. E não estou dizendo também que os finais das protagonistas são idênticos, espere e veja por si só. Não se preocupem, até agora não soltei spoiler de nada, garanto. Corra para o cinema e vá assistir Gravidade sem medo, pois verá que tudo que falei aqui não revelou nada do filme.


 Vamos agora às partes técnicas? O destaque aqui fica para o efeito sonoro, mesmo. Claro que os efeitos visuais são incríveis, e no 3D é ainda melhor, mas não é a cereja do bolo. Como no Espaço não há som (e fica aquele marketing do game Dead Space pairando "No Espaço, ninguém pode te ouvir gritar"), tudo fica ainda mais drástico para o clima denso e tenso pelo qual os protagonistas estão passando. Chega até a ser claustrofóbico. Apesar de que toda a comunicação entre os protagonistas e a Houston (diria que o contato por voz dos protagonistas com a equipe presente na Terra seria até uma outra personagem, mas não é para tanto) se dá pelos seus comunicadores internos, ou seja, presentes em suas roupas de astronauta. Mas isso não muda em nada o fato de que tudo fica restrito somente àquilo, e se der um defeito, por menor que seja, acabou-se. É estranho mesmo pensar estar vagando pelo infinito Espaço e, ao mesmo, se sentir mais condenado do que se estivesse preso em um elevador quebrado. A parte musical está presente, mas de uma forma bem comportada. Porém, naqueles momentos épicos de puro heroísmo e muito "Ahhh, deu certo! Que foda!", espere aquela trilha bem orquestrada e de vários lampejos. Eu, claro, tive que baixar a trilha sonora, e digo que vale muito a pena. Ainda mais para quem curte uma boa trilha sonora épica orquestrada a la Two Steps From Hell. Steven Price fez um ótimo trabalho aqui, e não duvido que tenha realmente se inspirado na orquestra que produz músicas para trailers (a própria Two Steps From Hell) com um mix das trilhas dos filmes de Darren Aronofsky e um Q muito grande do game Mass Effect (sério!). E eu havia até comentado uma coisa ao sair da sala de cinema, o fato de que a Ryan lembra demais a Shepard, a versão feminina para o Shepard do game Mass Effect. Seja na fisionomia, seja nos momentos épicos, seja no heroísmo. Eu a enxerguei em muitos momentos. Outra coisa da qual não posso esquecer de comentar é a Fotografia do filme mixada com o jogo de câmera de Cuarón. Espere muita interpretação de cenários com o deslumbre perfeito do jogo de luz, além dos planos visuais inesquecíveis sempre narrados por algum dos protagonistas. Há momentos em que tudo parece uma dança coreografada naquele vácuo sem gravidade. Tudo vive passando por transformações e é legal isso sempre ser perceptível. Muito legal na verdade! Tudo isto ajuda demais também nos momentos dramáticos (e como ajuda!).


 O filme não é muito longo, mas também não muito curto. Eu diria que tem a medida certa. Acaba realmente onde precisava acabar, e no tempo certo. Não é como Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, onde Cuarón parece que precisava correr pro banheiro para fazer o número 2 e disse "Acaba logo essa bosta!", e deu no que deu. Mas não, Gravidade tem tudo no ponto, e por isso é um grande filme. Sem exageros, sem aquele patriotismo forçação de barra americano (isso cansa demais em todo filme de astronauta, sério! Chega a ser irritante), sem pretensão. Um sci-fi de peso para um cinema que precisa, meio urgentemente, de ideias inovadoras. Mais do que recomendado! Alfonso Cuarón subiu novamente no meu conceito, e agora espero que ele não perca esse momento.

E é isso, pessoal. Espero que tenham gostado e que corram para ver o filme, pois este merece ser visto no cinema! Abração e até a próxima!


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