sábado, 15 de março de 2014

The Walking Dead: The Game (Season 2) - uma análise até o momento. Reflexões, surpresas e, talvez, uma certa polêmica.


 Já faz um tempinho que não posto por aqui, as minhas típicas sumidas, hehe. Mas estou retornando com a análise do que fora lançado até o momento na 2ª Temporada de The Walking Dead: The Game, ou seja, irei falar do Episódio 1 e 2 (lançado muito recentemente) e como esta nova temporada está me surpreendendo cada vez mais e mais. Agora temos a Clementine como a protagonista do game, ou seja, é a nossa personagem controlável e quem irá encarar todas as decisões - ainda mais difíceis neste retorno ao mundo da morte. Portanto, eu diria, que além de mais adulto (sei que é contraditório eu dizer isso quando estamos agora a controlar uma garotinha, mas é exatamente por isso que tudo que nos cerca fica terrivelmente mais denso), tudo no jogo está mais sólido e flui. Bem, agora vamos à análise em si. Preparem-se, pois a revolução está de volta! ;)


 Creio que preciso falar um pouco da Season 1, então alerto logo para alguns spoilers acerca da mesma, já que terei que falar principalmente do final para introduzir o contexto da nova temporada. Bem, na 1ª Temporada tínhamos Lee, um personagem que estava sendo levado para a prisão numa viatura policial quando, do nada, viu-se perdido entre o caos do "novo mundo", agora dominado por zumbis sedentos (vale ressaltar que no mundo de The Walking Dead, seja na HQ, série televisiva ou no próprio game, estes monstros não são chamados de zumbis, mas sim "errantes"). É a partir daí que adentramos em The Walking Dead: The Game. Logo no começo encontramos uma garotinha, sozinha em sua casa, já que os pais tinham viajado antes do acontecimento caótico. Claro que ela havia sido deixada com uma babá, mas esta já tinha virado uma errante faz tempo. Lee então se torna um tipo de babá para a menina, esta chamada Clementine. A jornada da Season 1 começa realmente agora, e tudo vai ser difícil, das escolhas aos encontros com personagens marcantes. Não me admira que o game - episódico e diria que um puro adventure - tenha recebido tantos prêmios de Jogo do Ano em 2012. É incrível e tem um impacto emocional imenso.

 Ainda sobre a primeira temporada do game, este com 5 episódios, temos Lee como único personagem jogável. A Clementine é como uma bolsa, que temos que carregar durante toda a jornada. Eu não estou dizendo que a garota é uma mala chata ou algo do tipo, só estou fazendo comparações, já que Lee vai viver todo o contexto do mundo/game diante de escolhas que não só envolvem o grupo que ele irá encontrar, mas principalmente no que diz respeito à Clementine. Eu só não digo que ela é a protagonista aqui porque o nosso foco é o Lee. Então, depois de descobrirmos o passado do personagem, o motivo pelo qual ele estava sendo levado preso, e lidarmos com as escolhas mais abissais e difíceis num roteiro marcante, chegamos ao ápice da série, no episódio 5. Aqui tudo já está tão "ferrado" (está é a palavra mesmo), que a gente só espera desgraça do começo ao fim do episódio. Não diria que foi o episódio que mais gostei ou que me marcou, porque não foi, mas as cenas são bem impactantes e emotivas, principalmente o final, onde - ALERTA SPOILER MALIGNO - o Lee irá virar um zumbi e é a Clementine que terá que matá-lo antes da "transformação". É uma cena tensa e angustiante, e depois disso parece não haver mais futuro. A garota está sozinha agora? O que realmente irá acontecer? É aí que chega a Season 2 para o nosso deleite e, talvez, algumas respostas.


 Comecei o primeiro episódio desta nova temporada muito ansioso, pois o hype havia já tomado conta de mim desde sempre hahahahaha, e talvez por isso eu somente tenha gostado do episódio - gostado, não adorado. Achei-o fraco, porém nos instiga a querer ver mais sobre esta personagem tão diferente do Lee, e que tínhamos visto durante toda a primeira temporada apenas como um "peso". Temos aqui uma Clementine mais crescida, mais determinada e já acostumada com este mundo. Ela enfrentou inúmeras dificuldades durante a sua jornada, perdeu o que ela tinha mais próximo de "família" depois que os seus verdadeiros pais morreram (sim, no episódio final da temporada anterior temos certeza disso), e agora tem que encarar tudo sozinha. Logo no começo nos é mostrado que ela reencontrou o casal Omid e Christa (eles se separam da gente no começo do episódio final da Season 1) depois do ocorrido com o Lee, e estava agora vagando com eles, mas uma fatalidade abissal acontece e o Omid é morto, o que leva a Christa (que estava grávida) a entrar numa terrível depressão e perder o bebê, e para completar ainda fica o tempo todo culpando a Clementine por todos os acontecimentos bizarros que as rodeiam. Enfim, não demora muito e as duas são separadas por acontecimentos medonhos. Agora sim, a Clementine está sozinha mesmo. E a aventura começa.

 Tudo agora pode ser classificado como CvE (hahahahahahahahaha!), ou seja, Clementine versus Environment. Todo tipo de coisa ruim parece sentir atração pela garota, e Clementine vai começar a ver que tudo pode sim piorar. Mas o jogo não seria tão bom se não fosse assim, seria? Temos agora um game altamente repleto de escuridão e escolhas ainda mais difíceis - a Telltale Games (agora uma das empresas de game da qual mais sou fã!) parece que apela no uso de cores frias nesta nova temporada, abusa da noite e tardes escuras para nos deixar sempre num clima mais denso e impactante. Chega até a ser cruel, mas isso é realmente necessário. A Clementine irá começar uma jornada para tentar encontrar a Christa e, principalmente, para tentar sobreviver. Logo de cara, ao fugir de um grupo de homens ensandecidos (grupo este que fez ela e a Christa se separarem), a Clementine acaba cainda num rio e sendo levada pela forte correnteza. Ela acorda numa região ainda mais desolada da floresta onde estava acampando, mas tudo surpreendentemente parece mais calmo. É, só parece.


 A garota caminha por uma paisagem pacífica, o Sol parece ressurgir no horizonte, até que ela encontra um cachorro. O animal parece raivoso, mas logo se acalma e começa a seguir a garota até um acampamento destruído. Clementine parece ter encontrado um novo amigo, e até fica mais animada diante do contexto. Procura comida e acaba achando uma lata de feijão. Precisamos então abrir a lata, e achamos uma faca (temos que retirá-la de um corpo). Com muita dificuldade, a garota consegue abrir a lata e, do nada, o cachorro parece enlouquecido. "Deve ser a fome", assim pensamos. Então a garota resolve dar um pouco da comida para o cão, mas literalmente, num bote certeiro, o animal parece não só querer a lata inteira mas também o braço da garota. Numa mordida profunda e no sangue escorrendo, o desespero toma conta da tela. Clementine está gritando de dor e o cachorro não larga o seu braço. O feijão a este ponto já está jogado no chão há muito tempo, não serve mais para nada. O animal não larga a garota de forma alguma, e só há uma solução, usar a faca (que alcançamos com muita dificuldade no chão) e enfiá-la no pescoço do cão. Era Clementine ou o cachorro, e no mundo de The Walking Dead isso parece ser uma coisa bem óbvia. Há qualquer momento o cachorro iria avançar na jugular da garota, isso era óbvio, e a morte teria que vir para algum dos dois. A faca é enfiada no animal e este morre agonizando. Temos a opção de matá-lo mais rapidamente ou de deixá-lo lá, afinal estamos com raiva. É isso. O que eu quis mostrar na descrição literal desta cena? Como The Walking Dead: The Game está mais denso, mais complexo e mais "assustador". A partir daqui teremos que lidar com uma temporada que irá focar quase que 100% nas emoções humanas e nas escolhas para com outros humanos. O nosso pior pesadelo sempre vai ser o ser humano ou outras coisas que parecem mais simples, e não os errantes, estes são uma consequência. A primeira temporada do game já era assim, mas aqui percebemos que a coisa está bem mais drástica, ainda mais por estarmos controlando uma garotinha. Essa cena do cachorro foi apenas uma entrada para nos dar um susto, para nos fazer ver como a realidade é cruel e como coisas que não têm culpa de agirem daquela forma precisam morrer ou definhar em função de outras. Afinal, o cachorro não estava doente, não era um zumbi, ele agiu por instinto. Ele estava faminto, e a garota o atiçou com o feijão e ele o tomou dela, mas claro que ela tentaria tomá-lo de volta, então imagina o resultado. Não daria outra. Foi uma cena triste. E agora, depois de todo este drama, a Clementine está sem feijão e com o braço jorrando sangue e ainda tendo que fugir de um monte de errantes que foram atraídos pelos seus gritos de dor. É uma literal desgraça.


 Bem, a partir daí a Clementine irá passar (realmente!) por maus bocados, encontrando um novo grupo de pessoas que parece acreditar em tudo menos nela, que parece não ser o que diz ser, e onde todo o contexto sempre parece estar contra a garota. Clementine está num inferno literal. É realmente uma transição da garota meiga e inocente da primeira temporada para a garota que precisa tomar uma atitude, mentir e ser fria para conseguir conviver entre adultos perversos ou simplesmente descontrolados emocionalmente. Até aqui falei do primeiro episódio da Season 2. Clementine começa muito ruim num susto e acaba ainda pior numa escolha perversa. A Telltale Games nos deixou bem claro que Clementine não está aqui para brincadeira, e nem nós podemos encará-la mais como uma simples criança perdida num mundo de zumbis. O pessimismo parece ter tomado conta do clima do game, mas esta era a real intenção mesmo da empresa, fazer com que tudo ficasse mais difícil para nós acreditarmos que algo bom possa vir de alguma coisa (ou alguém) neste mundo perverso.

 Agora adentrando de vez no Episódio 2, temos uma certa recapitulação do desastre que ocorreu no final do primeiro episódio e iremos ver literalmente as consequências da nossa difícil escolha. Aqui o episódio já começou nos mostrando que os diálogos estão mais diretos e focados na carga emocional - ou seja, o lidar com as consequências, o aconselhar, o agir por ser necessário. Iremos ser rebatidos com críticas, descaso, não aceitação e, eu diria, até tentativa de homicídio, mas agora a Clementine é outra, definitivamente. Nos serão dadas escolhas mais afiadas nos diálogos para que possamos responder à altura e para mostrar que nada é uma brincadeira só pelo fato de uma garotinha estar falando. Laços serão construídos, parecerão fracos, se fortalecerão, ou simplesmente serão desfeitos. Neste episódio a Clementine parece estar num complexo ninho onde precisa mostrar ser uma merecedora de seu espaço para com o restante do grupo e, assim, continuar nele. Os personagens do estranho grupo (estranho, pois todos parecem esconder algo, ou simplesmente parecem loucos) parecem desafiar a garota a todo momento, chega até a ser frustrante em certos momentos. Você quer parecer bem com um, mas outro te encosta na parede e você não pode ficar bem com os dois, então tem que escolher, mas parece que os dois são suficientemente importantes para o contexto, então parece impossível. É coisa demais, e isso nos intriga, e queremos continuar!


 Além desta "dança das cadeiras" em relação às escolhas, que estão muito mais difíceis, iremos ser desafiados também pelo emocional de algumas cenas. Pela primeira vez - isso inclui também a Season 1 - eu me senti realmente surpreendido com certas cenas em particular. Por exemplo, em uma cena de reencontro com um personagem da primeira temporada que achávamos estar morto. Eu tive que pausar o jogo, pois fiquei chocado. Se eu desconfiava que este personagem em si poderia reaparecer em algum momento? Sim e não, é difícil explicar. E ainda mais no contexto em que este aparece e de como ele mudou, não só fisicamente, mas também no que diz respeito ao seu estado mental. É bom e ruim ao mesmo tempo, e pode-se dizer que este reencontro irá gerar boas doses de difíceis escolhas (sim, mais delas!) e muitos momentos de pura raiva.

 Agora, uma coisa que realmente me chamou a atenção aqui neste episódio - a introdução, mesmo que "sutil", de um personagem gay na série. Já está virando uma certa rotina ver essas surpresas no roteiro de alguns games recentes (algo bem The Last of Us, onde até podemos imaginar que possa ser aquilo, mas só vamos realmente ter certeza com a finalização do arco). Se isto é bom ou ruim, e o que eu acho disso tudo? Bem, falando de The Last of Us (um game épico e exclusivo para o PS3 que também nos coloca num contexto pós-apocalíptico, mas este é um action-adventure a la Uncharted), eu adorei - mesmo! - a forma como o roteiro nos conduz a pensar e descobrir que o personagem é homossexual, o que fora feito dele naquele mundo caótico, a sua relação com o seu parceiro, o que o futuro lhe reservou, etc. É simplesmente tocante e somente tornou o roteiro do game ainda mais fenomenal. Isso é The Last of Us. Temos também o belíssimo exemplo de Gone Home. Um exemplo magistral, eu diria. Uma história de amor que vai mexer com todo o contexto do game em si, afinal acaba por ser o centro de tudo. O que eu quero dizer com estes atuais exemplos? Que estamos a ver uma boa mudança no que diz respeito aos roteiros de certos games, e como isso ainda tem muito a crescer, num aspecto brilhante e que visa a superação de preconceitos abissais. Ainda é um longo caminho a ser percorrido, mas está acontecendo e de uma forma animadora. Sim, mas agora vamos retornar para The Walking Dead.


 Eu diria que a coisa aqui muda de figura. Por quê? Simplesmente porque, mesmo que eu possa estar sendo um pouco radical, eu acho que o roteiro somente se utilizou de um relacionamento gay para dramatizar ainda mais o cenário e livrou-se dele da mesma forma - rápida e cruel. Ok, o contexto pediu tais acontecimentos marcantes em relação ao casal, mas por que precisava ser com eles? Por que os gays aqui parecem simplesmente personagens que foram jogados para agonizar e sofrer? Já não bastava a situação, ainda tinham que acabar de tal forma? Eu achei cruel demais, e bem desnecessário. Eu posso sim, como já mencionei, estar sendo radical e talvez até levando a entender que o roteiro se mostrou homofóbico, por assim dizer, mas assim pareceu. Como falei também, o que ocorre com os dois rapazes é um dos ápices dramáticos, não só deste episódio, mas de todos os que já existiram no game. Então retorno à pergunta "Por que com eles?". Eles não poderiam ser introduzidos e permanecido na história? Ou talvez alguma dramatização viesse a ocorrer depois, afinal estamos falando de The Walking Dead: The Game, mas não, precisava ser no mesmo episódio de chegada e os dois precisavam ser jogados no limbo da forma que foram jogados. Eu provavelmente estou sendo radical, sim, mas se fosse eu a ter que escrever o roteiro visando acrescentar personagens gays na série - sendo bem específico com este caso - eu não os colocaria no contexto em que foram colocados aqui, com certeza criaria outra situação para estes e, mesmo tendo que lidar com algum argumento da empresa do tipo "Eles não foram colocados na história para serem constantes ou felizes, foi só para dizer que não somos preconceituosos e fazer parte da modinha!", eu faria o máximo para não parecer desrespeitoso com a ideia e, obviamente, não iria deixar claro que só coloquei um casal gay para ocupar uma cota na história e assim serem descartados minutos depois e ainda mais da forma bizarra que aconteceu. Sendo assim, eu acho - com toda a certeza - que erraram feio na forma como o personagem "gay" fora introduzido aqui, e como o roteiro simplesmente os utilizou de "tapa buraco" quando nem era necessário. Resumindo, era melhor nem ter isso, Telltale Games. Deixava quieto que dava mais futuro!

 Enfim, depois desse desabafo em relação à única coisa - sim! - que achei ruim neste episódio (na verdade achei péssima mesmo), só tenho elogios para todo o resto. Eu acho todo o Episódio 2 incrível, e o finalizei marcado, realmente. Foi surpreendente. Me abalou, me emocionou, me deixou furioso. Bem, essa era a real intenção da Telltale mesmo, mas ainda acho que a empresa errou na introdução catastrófica de um romance homossexual que apenas acabou no mais puro desespero. Ficou bem claro que a empresa só utilizou os personagens para dar uma carga dramática ainda maior ao episódio, e foi isso que me deixou triste, pois não era necessário. Se fosse com um "casal hétero", também teria a mesma dose de drama, por isso digo que a Telltale só quis "causar" por assim dizer, mas causou feio, na minha opinião. Se era para colocar um casal gay, que o fizesse sem parecer contrário à ideia, só tenho isso a dizer. Estarei no aguardo, claro, dos episódios seguintes e da continuação eletrizante da jornada da Clementine, mas espero - realmente! - que a Telltale Games não cometa mais uma gafe desse calibre, afinal a empresa vem se mostrando um marco na superação de obstáculos e na criação de roteiros fenomenais, portanto pode fazer muito mais do que querer nos chocar de forma barata e através de artifícios contraditórios. É como falei, talvez a empresa nem tenha feito isso da forma que coloquei, e eu realmente esteja sendo radical, mas foi o que me pareceu a cada cena destacada para o casal, então esta é a minha opinião final. Melhore, Telltale! Por favor. ;)


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