sábado, 26 de janeiro de 2013

GAME REVIEW - The Cat Lady


 Já deveria ter postado esta análise há um bom tempo, mas infelizmente nem tudo que quero postar pode sair de imediato. Afinal são muitas correrias e tudo mais, mas bem, estou de volta depois de um mês praticamente sumido e, sinceramente, espero que curtam esta primeira review gamer que posto aqui no blog. O game da vez é The Cat Lady (2012), que coloco aqui como uma obra-prima psicodélica e interativa e, acima de tudo, uma produção totalmente indie. Mas afinal o que é este jogo? Sobre o que ele fala e por que eu achei necessário falar sobre ele? Primeiramente, este é um jogo de adventure independente e feito com a engine AGS (Adventure Game Studio), uma engine aparentemente simples, para fazer jogos de gráficos mais básicos e de configurações padrões, pelo menos eu pensava que o limite era este. Mas agora realmente preciso rever meus conceitos acerca do AGS, pois eu, até o momento, não acredito que tudo que vi neste jogo fora feito através desta engine. Todo o game é muito, mas muito bem estilizado e dinâmico, com imagens full-HD e com uma variedade incrível de sons, além dos diálogos full-voice acting (todo diálogo é falado e muito bem interpretado, diga-se de passagem!). Ainda estou boquiaberto, não somente por isto, mas diante da história fascinante que presenciei durante todo o game. Vamos à análise? Tudo bem que já teci elogios aqui, mas vamos ao fundo da garrafa. Tentarei não sair detonando spoilers, ok, mas não sou de ferro, então pode ser que entre uma frase e outra eu acabe falando demais, porém irei conter-me ao máximo. Não se preocupem.


 Inicio este texto com um rápido informe: o jogo é destinado a uma audiência adulta (18+), não somente pela história altamente pesada e deprimente, mas também pelas imagens gore de alto nível, além dos diálogos serem bem "diretos ao ponto". Então sim, é um jogo adulto mesmo e para um público bem exclusivo, aviso logo. The Cat Lady se trata de um jogo de adventure, como já falei inicialmente, ou seja, repleto de diálogos e quebra-cabeças a serem resolvidos no decorrer da história, com a utilização de objetos armazenados em seu inventário ou simplesmente através de quick-time events (momentos onde você precisa ser rápido e apertar alguma sequência de botões). A personagem principal desta sombria jornada é Susan Ashworth, uma solitária moradora de um condôminio localizado num lugar, digamos, muito triste e "apagado", de uma cidade não mencionada (porém ficamos sabendo através de uma das falas de Susan que a história não se passa nos Estados Unidos). Deve ser em algum lugar sombrio da Europa, provavelmente.


 Susan não é uma mulher comum, mesmo. É conhecida pelos vizinhos como a louca "Cat Lady", pois sempre atrai os gatos da vizinhança para seu apartamento tocando alguma melodia em seu piano e daí os alimenta na varanda. Todos a odeiam por isso, além do fato de ser uma pessoa totalmente reclusa e aparentemante problemática. Aqui fica claro o fato da sociedade sempre odiar e rejeitar o que não entendem, afinal ninguém chega para ela numa simples tentativa de tentar entendâ-la, sequer conversam com ela, simplesmente a repelem e falam pelas suas costas. Muitas coisas já aconteceram em sua vida, mas isso não está nada claro no início do jogo, e só ficamos a saber sobre seu depressivo passado lá pela metade deste.


 Na verdade o game inicia de uma forma nada clara, mesmo. Temos uma mulher ao fundo falando sobre acabar com sua vida e sim, ela faz isso ao tomar um vidro inteiro de pílulas anti-depressivas. Ela vai lendo sua "carta de despedida" ao mundo que nada de bom fez para ela e daí, morre. Simplesmente. Mas, do nada, acordamos num agradável campo. O céu azul meio que nos transmite uma calma, porém do que se trata tudo isto? Andamos um pouco através do vento que sopra forte, os cabelos de Susan são jogados para trás (adorei este efeito do vento, pois se colocamos a personagem de costas para tal o cabelo dela cai sobre sua face, é uma coisa simples que faz toda a diferença). Ao chegarmos no outro quadro (o jogo é feito de quadros/cenários, é como se saíssemos de uma tela para outra, normal em jogos do tipo) avistamos o que parece ser um depósito abandonado. Queremos entrar, mas a porta está trancada. É aí que tudo começa, uma busca pela chave e uma jornada através de um pesadelo. Entre cenários com corpos multilados, paisagens bucólicas misturadas com sangue e labirintos repletos de cabeças de animais, chegamos a um casebre de madeira e uma velhinha sentada na varanda nos recebe calorosamente. Podemos perguntar se ela é o demônio, Deus, ou a Morte (escolhas assim sempre irão aparecer no decorrer do jogo, e diferentes diálogos poderão surgir, assim como cenas). Eu perguntei se ela era o demônio pronto para puní-la por ter cometido suicídio, mas ela simplesmente diz que se Susan não acredita em Deus, porque acreditaria no demônio? Realmente faz sentido, porém percebemos que isso é apenas uma forma de desviar do assunto e logo  a velhinha nos convida a entrar em sua casa. Ela deixa claro que raramente convida alguém para adentrar o local, pois são poucas as pessoas que realmente merecem tal privilégio. Subimos a pequena escada e logo nos vemos numa sala empoeirada e desoladora. Um diálogo perturbador vai se desenrolando e a velhinha oferece à Susan algo bizarro: a chance de poder voltar à vida. Mas como a vida pode ser algo tentador para alguém que buscou propositalmente a morte? É a partir daí que tudo começa a ficar interessante. É oferecido à Susan também a chance de transformar a sua vida em algo que valha a pena, algo que a faça querer continuar viva. Uma tarefa que somente Susan poderia desempenhar. Será difícil? Sim. Cruel? Mais ainda. Como falei, será uma viagem alucinante. O que acontece a partir daí? Isso é somente o começo de tudo. Seria apenas o Prólogo da longa jornada de Susan através da morte, ressurreição e, claro, redenção. Uma quase jornada da alma.


 O jogo é bastante poético no sentido de contar a história, e isto fica claro em cada cenário. Vai de flashbacks a paredes formadas com palavras (literalmente). Mas outra coisa que merece ser mencionada é o seguinte: vocês acham que como o jogo é de horror (sim, muito) então simplesmente vai ter muito sangue e cenas grotescas e, só? Engana-se bastante se pensa desta forma, mesmo. Já falei, logo no início, que este é um game bastante depressivo, tudo bem. Mas não porque você vai se sentir desta forma, e sim porque trata de uma história onde sua protagonista passa por todo um exaustivo processo de entender a si própria num cenário altamente caótico, onde a sociedade a critica de todos os lados e a própria Susan não acredita mais em si mesma, o que acarreta no suicídio. Ou seja, o cenário é bem triste e as histórias paralelas acabam por ajudar bastante a moldar ainda mais este mundo cruel e sombrio demonstrado no game. Mas é como falei, é por causa disto que você se sentirá "deprê"? Eu acho que não, mas claro que vai depender muito da pessoa que está a jogar. Eu acho que se The Cat Lady fosse um filme, seria um drama de primeira categoria, com muitas pinceladas de gore, mas daí você estaria somente assistindo a todo o processo, e talvez o envolvimento emocional, por ser diferente, fizesse tudo ser mais pesado e, muitas vezes, difícil de proceder, pois sim, seria um filme altamente pesado e cruel. Como, no jogo, você está a interagir continuamente, cena por cena, diálogo por diálogo, nas escolhas feitas pela Susan e tudo mais, a coisa toda fica, na verdade, bem tensa, não depressiva. Você se sente correndo contra o tempo a todo minuto. Susan está muito, mas MUITO fud enrascada. Está, literalmente, comendo o pão que o Diabo amassou, mas também está se redescobrindo, aproveitando a "chance" que lhe foi dada para voltar à sociedade depois de sua morte e cumprindo a difícil tarefa a qual fora incubida. Não vou dizer mais nada, pois já falei demais até.


 Iremos nos defrontar com inúmeras situações bizarras (mesmo!) e Susan irá conhecer e dialogar com personagens nada convencionais. E são estes personagens "secundários" que transformam a jornada numa aventura (ou melhor, pesadelo) ainda mais proveitosa. A dublagem do jogo é primorosa, com muita atenção aos detalhes e momentos de cada cena. Destaco aqui as vozes de Susan e Mitzi (que vem a se tornar amiga fiel de Susan no decorrer da jornada). Um trabalho atencioso que merece ser apreciado. Com uma trilha sonora bem presente e sons que podem ser considerados bastante simples no jogo realmente são climáticos e deixam tudo ainda mais tenso. Há momentos em que, não bastasse o cenário altamente decadente e monstruoso, vem aquele ruído ou grito do além, o tic-tac de um antigo relógio, os ruídos da madeira gasta num chão empoeirado. The Cat Lady coloca muito jogo AAA (ou seja, de alto custo e produção) no chinelo. R. Michalski e sua desenvolvedora 'Harvester Games' conseguiram construir uma verdadeira experiência aterradora. Vale destacar que Michalski já havia lançado um adventure-game de mesmo estilo: o 'Downfall' (2009). Se o indico? Sim, muito, mas digo logo que não chega aos pés de 'The Cat Lady', afinal segue mais a linha do gore mesmo e pronto, fica por muitas vezes somente nisto.


 Encerro este texto indicando mais uma vez o game, pois este merece. Aqui você encontrará mais do que uma jornada interativa, irá presenciar um transbordar de momentos nunca antes vistos num game de adventure, ou qualquer outro. É diferente mesmo de tudo que já vi. Não é para todos, deixei isto claro logo de início, mas quem curte uma boa história não pode deixar passar. The Cat Lady acaba também por transmitir alguns temores e crueldades que a sociedade oculta, mas que estão lá, a todo momento. Parasitas, sociopatas, suicidas, sempre nos parecem sujeitos ocultos de alguma frase aterradora ou programa sensacionalista, mas que nunca podem fazer parte de nossos círculos sociais. Nós podemos até ter algum conhecimento, mas encarar os fatos muitas vezes é a tarefa mais difícil. Um choque de realidade às vezes faz muito bem, seja este através de uma crítica ou, claro, de um jogo.


7 comentários:

  1. Poxa Dani fiquei muito afim de conhecer, tua descrição é mara... =) Depois me ensina como consigo!!!

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    1. Valeu, Van! Eu adquiri o jogo através do site oficial: http://www.thecatlady.co.uk/ , mas infelizmente este não o vende em reais. Pra comprar em dilmas hahahahahah você pode adquirir através do Desura, que é uma plataforma de games indies (quando eu comprei, na pré-venda, ele só vendia através do site oficial, senão eu o teria comprado pelo Desura, com certeza!). Lá ele está custando R$ 22,00. Bem barato na verdade, pro calibre do jogo. O site do jogo no Desura é este: http://www.desura.com/games/the-cat-lady . ;)

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  2. Estou vendo o Cry (ChaoticMonki no Youtube) jogar esse game e fiquei tão curiosa que tive que procurar sobre já que meu inglês é um lixo e eu pego poucas coisas durante o gameplay, no final só achei a tua review em português e só posso agradecer por isso, sério, muito bem feita e finalmente me convenceu a jogar.

    Parabéns.

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    1. Olá, Aline! Agradeço muito pelo seu comentário. É sempre ótimo receber críticas e ainda mais saber que ajudei na sua decisão sobre jogar ou não o The Cat Lady, o qual achei realmente fantástico. Creio que não se arrependerás da jornada, o jogo mexe demais com você. Infelizmente, tenho que admitir, este tipo de jogo aqui no Brasil é aquela coisa do "submundo", haha. Pouquíssimas pessoas sabem a respeito dos adventure-games, e se sabem apenas lembram da época clássica dos games da LucasArts. The Cat Lady, além de adventure, tem um tema totalmente maduro (com cenas bem fortes), então isso faz com que a situação fique ainda pior por aqui. Você é a primeira pessoa do Brasil com quem falo a respeito do jogo, ou melhor, que conheça o jogo. O grande público deste gênero de games está localizado na Europa (e um bom número também nos EUA), por isso não é surpresa alguma que mais de 80% dos adventures saiam de lá. Já no Brasil a gente fica bem segregado, e de uma vez ou outra encontramos alguns brasileiros perdidos em algum fórum, mas mesmo assim é bem difícil. Faz um tempinho já que eu não posto alguma coisa aqui pelo Blog (já devem estar pensando que morreu), mas é que ando muito ocupado e realmente me falta tempo, mas saiba que sempre estou postando coisas do tipo (pelo menos tenho ainda muitas reviews planejadas). Espero que possa acompanhar o Blog. ;D

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  3. cara, tudo bom? estou muito afim de jogar esse jogo mas ele é todo em ingles, parte ou outra não conseguirei traduzir.. sabe dizer se nao tem uma tradução para ele na net?

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    1. Olá, Gabriel! Infelizmente o jogo encontra-se somente na língua inglesa mesmo (o jogo é europeu), e eu não recomendo (mesmo!) jogá-lo sem entender a língua, pois há inúmeros diálogos e aqui há uma história que realmente precisa ser entendida para o jogo fazer sentido. Se eu souber de alguma tradução em andamento, publico aqui, pode deixar! ;)

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    2. valeu cara. depois de jogar tantos jogos em ingles e não entender muito bem a história, vou ver se entro num curso de inglês, só pra entender esses jogos kk não posso deixar jogos desse calibre passar assim sem jogar :b

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