terça-feira, 27 de agosto de 2013

Saya no Uta (Song of Saya) - uma Visual Novel que consegue misturar obras de H.P. Lovecraft de forma inigualável!


 Primeiramente, quero desculpar-me pela ausência (coloque ausência nisso!), mas a correria da vida é um problema sério. Coisas aqui e aculá, então é realmente uma complicação parar e lançar posts do nível que já estou acostumado a publicar por aqui. Para chegar aqui e colocar simples notícias todo dia seria muito fácil, mas esta não é - e nunca será - a proposta deste blog (repetindo, SIMPLES notícias, coisa de um parágrafo e pronto, isso eu não faço mesmo). Então, é como já falei, eu posso demorar séculos, mas eu sempre volto com algo! (hahahahaha!).

 Agora, para a análise em si, trago para vocês uma Visual Novel. Aham, eu sei que para muitos a pergunta "O que é isso?!" veio à mente de primeira, mas não se preocupem, vou dar algumas explicações básicas para o real entendimento do que vem a ser este tipo de "jogo". Para isso, irei colocar aqui o textinho Wikipédico, pois creio que explica bem (por incrível que pareça!) o que é uma Visual Novel -


"Visual novels (ビジュアルノベル, bijuaru noberu) é um gênero de jogos de videogame e PC bastante comum no Japão. São jogos focados no enredo, nos quais o jogador acompanha uma história por meio de textos, músicas e imagens, e, em alguns raros casos, cenas gravadas com atores reais. Em momentos-chaves desses jogos o jogador deve decidir que caminho o protagonista deve seguir e, desta forma, o jogo avança. O desenvolvimento da trama destes jogos costuma depender das escolhas que os jogadores fazem durante o jogos. São como filmes ou livros interativos; daí o nome "visual novel". Exemplos de visuals novels conhecidas são as séries Tsukihime e Fate/Stay Night, ambos da empresa Type-Moon, Clannad e Air, ambos da empresa Key, Higurashi no Naku Koro ni e Umineko no Naku Koro ni, ambos do grupo 07th Expansion, e Phoenix Wright: Ace Attorney e todos seus sucessores, da Capcom."

 Pronto, é basicamente isso. A jogabilidade de uma visual novel pode variar bastante, mas muitos pensam o contrário, afinal é muito comum encontrar VNs onde você somente precisar clicar para avançar os "slides" (Saya no Uta é um exemplo). Porém eu já deparei-me com algumas que nos colocam em cenários onde há um verdadeiro gameplay a la RPG, e outras onde você precisa interagir com o ambiente através de falas digitadas, ou seja, interagir com os "NPCs" diretamente. O que eu quero dizer é que o mundo das VNs é mais amplo do que muitos imaginam, e cada qual afeta quem o joga de uma maneira totalmente diferente. Ao meu ver, visual novels têm uma clara definição: são o que muitos queriam para seus livros favoritos, ponto. Você mergulha fácil nos mundos fictícios dos seus queridos livros? Então uma VN vai te colocar ainda mais naquela realidade alternativa. Simples assim. Bem, só jogando para saber, mesmo.

 Já joguei/interagi com várias VNs: dramáticas, românticas, horror, eroge, comédia escolar; e já joguei todas as citadas acima na definição da Wikipédia (Higurashi no Naku Koro ni e Umineko no Naku Koro ni são umas das minhas favoritas!), e preciso dizer que todas sempre carregam aquele ambiente de anime e aquela típica atmosfera japonesa (claro, afinal são características de lá, e não é à toa que muitas viram animes), portanto seria uma boa o jogador gostar deste tipo de coisa, mas não é um fator obrigatório, mesmo! Jogue e entenderá. Agora, uma coisa é certa, mesmo com a interatividade garantida, você precisa gostar muito de ler, pois como expliquei antes, muitas VNs são feitas carregadas de textos e repletas de falas (algumas dubladas, depende muito), ou seja, você precisa ler a todo momento. Por isso não gosto muito de dizer que uma visual novel é um jogo, pois na verdade não é. Você meio que joga, mas isso é, no máximo, 25% do processo. Existem os cenários em "slides", os personagens que surgem na tela, a trilha sonora dos ambientes, mas sempre com um texto por cima. Leia, leia, leia, é a regra. E uma coisa que pode ser ruim para muitos: a maioria das visual novels são japonesas, ou seja, quando você acha algum patch (feito por fãs, diga-se de passagem! É incrível como a comunidade 'fanmade' de VNs é enorme!), ele está em inglês. Então, preciso ser bem realista, para jogar uma quantidade decente de VNs (uma ou duas, de três em três meses), precisa jogar em inglês. A comunidade brasileira especializada em tradução de VNs é quase que inexistente (desculpe se eu estiver falando besteira, mas é o que eu percebo), esta é a cruel realidade, daí muitos ficam sem jogar por causa deste empecilho, infelizmente. Tudo bem, a língua inglesa não é mais uma barreira tão grande como antigamente, mas mesmo assim ainda não é uma realidade efetiva.


 Nossa, tá bom de tanto blá blá blá explicativo. Vamos agora ao que interessa: Saya no Uta, ou como é mais conhecida: Song of Saya. O que dizer desta visual novel? Surpreendente, essa é a palavra. Não é a minha favorita, mas ela superou minhas expectativas de uma forma, oh, surpreendente (haha!). Mas também, já era de se esperar, o roteiro fora feito totalmente pelo mago das surpresas: Gen Urobuchi. Tudo que este cara faz, seja em anime ou VN, sempre consegue me sugar, é bizarro. Quer exemplos? Vamos lá: Phantom~ Requiem for the Phantom (VN e anime), Puella Magi Madoka Magica (anime e filmes) e Fate/Zero (anime). Somente estes títulos bastam para explicar a mente do maníaco (hahahahahaha!). São obras magníficas, mesmo. Digo logo que sempre estão na lista dos meus animes favoritos. Saya no Uta já é uma VN "antiga" (2003), mas aqui no Ocidente ela veio ficar mais famosa agora (com a tradução oficial para o inglês). Ela já possuía um patch fanmade desde 2004, mas eu, infelizmente, não conhecia esta versão (na verdade nem a visual novel!). É destinada para adultos (18+), pois possui muitas cenas fortes que retratam não só conteúdo sexual explícito (somente na versão ocidental), mas também bastante gore (e não mede esforços para tal). Então, novamente, não é para todos. Depois não vá ficar gritando pelos cantos dizendo que eu indiquei mas não alertei, há! Já vi muita gente dizer que abandonou a VN logo no início, que praticamente pulou certas partes, ou simplesmente achou tudo muito "nojento". A minha opinião é a seguinte: suba no barco somente se você souber para onde ele vai. Ponto! ;)

 Agora partindo para o roteiro em si, eu não poderei explicar para vocês o porquê do título ser "Song of Saya", isso precisará ser entendido no decorrer da VN. Portanto irei falar um pouco do contexto, personagens, comparações, etc. Não se preocupem.


 Fuminori Sakisaka é um rapaz que sofreu um trágico acidente de carro, onde perdeu seus pais e, consequentemente, a forma natural de ver e perceber o mundo. Sendo bem sincero, o cara é um personagem infame do começo ao fim. Ele é nojento, cruel e patético. Você acha que ele merece simpatia pelo que aconteceu com ele, mas na medida que as coisas vão acontecendo, fica bem claro que não é bem essa a realidade. Quando eu disse que ele não enxerga e percebe o mundo de forma natural, eu quis dizer literalmente. Como? Ele, no acidente, sobreviveu por pouco, porém com uma sequela bizarra: tudo que ele enxerga não passa de formas grotescas, um muco infernal que reveste tudo que um dia fora natural. Uma linda paisagem, para ele, não passa do inferno na Terra, e as pessoas não são mais humanos, são monstros medonhos que fedem a fezes e expelem um líquido abissal ao grunhir (é realmente um grunhido, e ele só entende as falas se prestar bastante atenção). E não é só o cheiro de tudo que passa a ser quase insuportável, mas o gosto das comidas também. É muito estranho e louco, mas é assim que Fuminori passa a viver. Mas ele decide que não vai contar a ninguém. Ele coloca na cabeça que isso é um castigo a ele dado, e que irá definhar com essa coisa toda. Uma atitude ridícula, pois nem para a sua psiquiatra, a doutora Ryoko Tanbo, ele conta. Ele, por ser um estudante de Medicina, coloca decididamente na cabeça que isso não pode ter cura e que tudo já está decidido. Mas não é simplesmente por esta atitude que eu o odeio, não. Fuminori, mesmo antes do acidente, já era um rapaz convencido e anti-social, e com uma personalidade bem duvidosa. Após o acidente isso tudo só triplica, pois com essa "maldição", ele passa a evitar qualquer coisa, pois tudo faz mal para ele.

 Fuminori, mesmo sendo esta pessoa intragável, possui três fiéis amigos: o casal Koji Tonoo e Omi Takahata, e a frágil Yo Tsukuba - que é apaixonada por ele, coitada. Eles sempre tiveram uma rotina, onde frequentavam as aulas de Medicina e, sempre que podiam, se reuniam num bar próximo. Koji é um cara íntegro, porém idiota, e que considera a sua amizade com Fuminori uma coisa séria, apesar de não aceitar muitas coisas nele. Na verdade ele merecia um prêmio de melhor amigo, pois o cara foi cego a todo tempo, sem comentários. Omi, a namorada de Koji, na realidade nunca se considerou amiga de Fuminori, pois sempre o detestou, mas por causa do Koji e da sua amiga Yo (a coitada que é apaixonada pelo Fuminori) ela "empurra com a barriga" essa relação mútua (pois Fuminori também a odeia). Tudo sempre foi caminhando, mas depois do acidente a coisa ficou absurdamente estranha e, com o total afastamento de Fuminori, somando-se a sua atitude altamente ácida, todos ficam preocupados e ao mesmo tempo frustrados, pois não sabem a razão desta mudança radical. Afinal não seria possível virar tal monstro, mesmo após um acidente tão trágico. Mas, como Fuminori perdera seus pais, todos levam a crer que ele somente precisa de um tempo (um loooongo tempo) para se recuperar do choque.


 Chegando agora no foco da história: Saya. Quem/O que é Saya? O que ela representa/é? De onde ela veio? Bem, isso você só vai descobrir "jogando". Mas posso dizer que Saya irá aparecer na vida de Fuminori logo no início da VN, quando este ainda está internado no hospital e está no período de aceitação do seu problema (o qual ele não revela a ninguém). Saya aparece para ele e, do nada, muda sua vida radicalmente, pois ela é o único ser na Terra que ele consegue enxergar como um humano (na verdade ela é a única coisa normal que ele vê). Então Fuminori logo decide que precisa de Saya mais do que tudo e esta acaba unindo-se ao rapaz de uma forma bizarra e, digamos, até doentia. Um amor abissal nasce e tudo começa a mudar, não só na vida deles, mas de todos ao seu redor. Eu não posso avançar nesse resumo. Terei que parar por aqui, senão irei, com certeza, soltar muitos spoilers.

 Citei os personagens centrais, a trama em si e, agora, vamos ao contexto. Toda a VN se passa em algum lugar do Japão, e como o local não é denominado, eu creio que possa até ser um lugar fictício. Mas enfim, alguns locais serão centrais na trama: a casa de Fuminori, a Faculdade de Medicina, o bar/lanchonete e o Hospital. Alguns outros lugares irão aparecer, mas isso só adiante. O foco será mesmo na casa de Fuminori e muitas coisas tenebrosas irão acontecer/se revelar no local. As cenas mais frequentes são, eu diria, normais. Sem conteúdo realmente forte. Alguns cenários, a maioria retratando a forma como Fuminori está enxergando o mundo, será sempre pestilento e grotesco, mas nada de chocante. O que realmente é pesado nesta VN são as cenas de sexo: altamente explícitas e a história irá retratar estupro, então já está avisado. Mas mesmo possuindo estas cenas, eu não classifico, nem de longe, esta VN como um eroge (VN quase que totalmente voltada para o conteúdo sexual). Tem eroge, sim, mas com certeza não é o foco. O horror psicológico domina a história. Totalmente. Bem, tudo aqui tem um sentido, ou seja, a ficção retratada precisa de todo este conteúdo, então não tem nada gratuito e extremamente exagerado aqui. Tudo está lá porque precisa estar e pronto. Se eu for citar o monte de porcaria que é lançada por aí (falando de todo tipo de coisa/mídia) que só existe pra tentar faturar algo e não tem sentido algum, eu iria escrever uma lista infinita. Então, só deixando claro (novamente), a história é excelente mas é pesada sim, então só vá adiante se realmente se interessar e saber medir as coisas.



 Como já falei, o horror psicológico (carregado de muito gore) é o centro de Song of Saya. Mas não é simplesmente por causa disso que estou comparando o conteúdo à literatura de H.P. Lovecraft. Não mesmo. Para quem conhece a vasta literatura do autor, com certeza irá identificar muita coisa aqui e aculá na trama de Song of Saya. 'O Caso de Charles Dexter Ward', 'O Chamado de Cthulhu', 'A Tumba', e - principalmente - 'A Cor que Caiu do Espaço' estão sendo, a todo momento, homenageados na VN. Mas para perceber estas minúcias, realmente precisa conhecer a obra do autor. Fato. Mas não é só isso. Lovecraft (e sua categoria 'horror cósmico') sempre focou suas tramas no psicológico dos personagens, sejam eles principais ou não. O medo do desconhecido sempre domina. E, consequentemente, a loucura aparece. Tudo sempre interligado. Deuses abissais, criaturas mitológicas, coisas que podemos temer mesmo sem saber que existem. Porém, em suas obras, elas se fazem presente, de uma forma ou de outra. Elas realmente existem ou tornam-se reais. Se isso faz parte da sanidade de cada personagem, pouco importa. O que realmente interessa é que as histórias são de arrepiar. E é exatamente aqui que eu queria chegar, pois Song of Saya consegue ser exatamente isso. E você não consegue largar a VN pois quer saber, a todo custo, a resposta para tudo aquilo. E, pode ter certeza, que cada minúcia (ou não) somente será revelada no final. É muito interessante. Não se enganem pela "fofura" de Saya. Por trás da beleza, há muito pavor.

 Song of Saya possui três finais distintos (característica muito comum em VNs. Há algumas que possuem mais de sete, depende muito): o bom, o verdadeiro e o ruim. Qual você irá querer ver? Todos! Sério. Cada qual possui um ponto interessante para a trama, então, se possível, veja todos. E, aproveitando este gancho, vamos para a parte técnica da VN. Ela possui um sistema de 'Save' bem simplificado (como em toda VN praticamente), o que possibilita salvar o jogo em qualquer slide e com qualquer fala, ou seja, você também pode salvar em slides decisivos (nos momentos onde você precisará optar entre duas escolhas de diálogo, ou melhor, decisão). Por exemplo: estou correndo de alguém que quer me matar, daí o que farei agora? Vai aparecer um slide com dois slots. Cada um com uma escolha. É mais ou menos isso. A minha dica é: SALVE SEMPRE! Pois se você não gostar da opção, pode voltar atrás, mas só faça isso quando for jogar novamente, pois a graça é ver todas as opções possíveis. ;) A trilha sonora é muito boa, algo que na verdade é até comum em VNs. Joguei poucas que possuíam algo realmente desinteressante na parte sonora. Algumas músicas são bem climáticas e, mesmo se repetindo bastante, se encaixam perfeitamente ao contexto. Vou deixar um exemplo aqui:


 A arte do jogo é muito boa. Cenários e personagens bem caprichados fazem com que a imersão só aumente, e que o terror domine algumas partes de uma forma impressionante. De vez em outra você verá um traço um pouco diferenciado (principalmente nas cenas de sexo), mas nada que vá acabar com a qualidade da VN, longe disso. Como já falei, as cenas de sexo não são o foco, e não são constantes. Por mim, elas nem existiriam no jogo, mas a cruel verdade é que os autores japoneses parecem que sentem a necessidade de colocar algo pervertido em certas coisas. Nem todos contém sexo, mas sempre tem uma coisinha inusitada que passa o entendimento. Mas como também já falei, lá em cima, tudo tem um propósito nesta VN, e o sexo (seja ele doentio ou selvagem) é um personagem aqui na trama, não dá pra negar isso. A necessidade de certos personagens pelo sexo aqui terá uma resposta, garanto.

 Nossa, falei demais, como sempre (hahahahaha). Mas como havia passado mesmo um bom tempo sem dar as caras por aqui, o post merecia ser enorme. Tentarei fazer mais análises de VNs para o Blog, pois são muitas e algumas realmente são magistrais. Song of Saya é excelente, mas com certeza há melhores. Aqui o que realmente me deixou pasmo foi como a história fica mais e mais interessante a cada fala, e há realmente um real terror que só aumenta. Eu nunca havia sentido isso numa VN, por isso precisei falar sobre ela. Vale muito a pena, sem sombra de dúvidas. Mas se começou com esta, siga adiante, pois VN boa é o que não falta. Há muita coisa épica por aí que a maioria só descobre quando, por sorte, esta vira um anime ou mangá. É a vida. Um anime de Song of Saya seria perfeito, mas é pedir muito neste conturbado mundo japonês atual (hehe). O negócio é torcer para que estejam prestando atenção na visibilidade que esta teve com a tradução oficial para o inglês e, com isso, a transformem num anime. E é isso, pessoal. Até a próxima, e fiquem aqui com um trailer da VN.




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