sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Games: apenas o pilotar de um joystick, ou um aprendizado diferenciado?


 E chegou o dia do resultado da Enquete. Quem ganhou? A resposta está bem aí no título. Se não gostou do tema, tente ler o texto de qualquer forma, afinal o preparei para tod@s e de uma forma não tão convencional (a minha ideia era realmente fazer um BIG post, polêmico, acerca do tema que viria a ganhar), certo? Creio que interessará da mesma forma, mesmo se você estava com imenso interesse em animes ou numa maior abrangência do terror nacional. E não se preocupem, os outros temas também serão discutidos, só que mais à frente.

 Esse talvez seja um tema complicado de se debater assim e a fundo, é mais ou menos como a eterna polêmica "Seriam os games uma forma de Arte?" ou "Games violentos tornam as pessoas violentas?". É o seguinte, não irei opinar sobre estas perguntas que parecem simples (e na verdade são) mas que acabam por assolar a humanidade (que insiste em preocupar-se com coisas menores ou simplesmente culpabilizar algo para facilitar as coisas). Não vou porque, afinal, é tanto assunto que sobra pano até pra tapete indiano, e creio que para quem me conhece, deve saber a minha opinião acerca destas "polêmicas perguntas". E, ah! Sei que alguns poderiam esperar que eu lançasse alguma notícia sobre um jogo mega discutido ou que fora anunciado na Gamescom que está rolando aí (não faltariam games mesmo!), mas preferi debater algo mais, hummmm, discutível, e que realmente estivesse à altura da Enquete. Senão para que ela serviria mesmo? Só para uma notícia simples e que seria encontrada em qualquer outro site de games por aí (e olhe que sites não faltam)? Vocês sabem, não é? A proposta do Blog é realmente gerar debates e propor ideias. Então, vamos ao que interessa.

Para conhecer o mundo,
Não é necessário percorre-lo.
Posso conhecer os segredos dele
Sem olhar pela janela do meu
quarto.
(...) Quem desperta em si
As forças criadoras da vida
Realiza a sua íntima essência
E nela permanece (...)

Lao-Tsé

 Qual era a pergunta mesmo? Ah, tá. Os games podem ser considerados algo mais além de uma simples forma de diversão? Eles nos ensinam algo? Bem, este é um terreno perigoso, mas o que falarei aqui é a minha opinião, de gamer para gamer, nada de fundos moralistas, certo? Bem, talvez um pouco, afinal não sou de ferro. Enfim, claro que os games nos ensinam, mas o que influenciará este aprendizado é exatamente a pessoa que o recebe. É como uma aula de Física: alguns gostam, outros odeiam, e outros simplesmente decidem que querem utilizar aquilo para mudar o curso da humanidade algum dia. Simples assim. 'Ah, tá bom, Daniel! Você fala isso, mas cadê seus argumentos? Quero uma fundamentação, cara!". É, claro, isso não poderia faltar, meu caro leitor. Vamos aos exemplos de uma intrincada rede de fenômenos gamísticos.

 Inicio com a fala de Jeremiah Alexander (ganhador de diversos prêmios como game designer e várias outras coisas, além de sempre falar sobre a indústria de games e ter a sua própria empresa chamada Ideonic) - "Os melhores games combinam jogos e estórias. Estes dois componentes, não por coincidência, são as formas de aprendizado mais eficientes que existem". Uma fala simples, que, a meu ver, diz tudo. Agora, a partir disso, o que podemos falar?

 O jogo é nossa primeira forma de aprendizado. Quando crianças, observamos as habilidades e ações de nossos pais, familiares e outras pessoas. Depois, criamos brincadeiras sobre elas, geralmente num contexto fictício, onde temos chance de desenvolver essas habilidades num ambiente onde é permitido falhar. Este é o aspecto mais importante do jogo: falhas são quase sempre permitidas. Podemos aprender com elas, repetir e continuar o processo até chegarmos ao nível de domínio desejado. Jogar é a maneira perfeita de se aprender e desenvolver habilidades. Não é verdade?

 Em quase todas as culturas, estórias foram contadas como um forma de se espalhar conhecimento. Elas podem ter começado realistas mas, através dos tempos, se tornam místicas, fantásticas e inesquecíveis. É este aspecto inesquecível das estórias que as fazem uma das melhores formas de transferir conhecimento. Ainda vemos isso hoje em dia, quando pais contam a seus filhos estórias mágicas com uma moral, uma lição a ser aprendida. Da mesma maneira, muitos dos grandes líderes espirituais usaram a narração de estórias para espalhar suas mensagens. Quando você combina jogos e estórias, como fazem os games, algo especial acontece. Se torna possível adicionar um terceiro ingrediente ao aprendizado. Este ingrediente são os sentimentos de co-autoria e empatia. De repente, você não apenas escuta a estória, você está nela, e precisa usar suas habilidades para progredir e seu conhecimento para tomar decisões (humm, decisões, esse tópico pode ser observado mais profundamente em games mais recentes, como os da série Mass Effect ou em Fallout 3, por exemplo). Você começa a aprender da mesma maneira que o faria na vida real. Ou não, claro, porque temos que admitir que alguns utilizam a liberdade dos games para extravasar o que não fariam na vida real, mas como já falei lá no início, varia de pessoa para pessoa. Não estou aqui para discutir o que é certo ou o que é errado, somente destacando a influência gamística e como esta pode ser uma forma de aprendizado.

 Jogos sérios e educacionais melhoram cada vez mais (a próxima geração de games que o diga!). Pode-se observar pesquisas em jogos e narrativas transmidiáticos (que desenrolam-se através de várias mídias) como forma de engajar aprendizes mais profundamente e por mais tempo. Podemos até encontrar jogos do tipo que ambientalizam o Cinema histórico, onde este alia-se a jogos para web e celular junto a elementos fílmicos. No entanto, não é necessário se voltar para jogos educacionais para constatar a eficiência dos jogos como ferramenta de aprendizado. Pegue um jogo popular como Call of Duty, encontre um jogador dedicado e o pergunte sobre procedimentos militares e artilharia. Eu garanto que você se surpreenderá com seu nível de conhecimento. Jogos já ensinam habilidades e conhecimento às pessoas. Nós só precisamos ser mais seletivos quanto ao que queremos ensinar, e aprender. Se os pais precisam observar o que seus filhos estão jogando? Sim, claro. Afinal é a partir daí que a criança tornar-se-á seletiva acerca deste mundo. E, claro, por que falei de um game violento de guerra como Call of Duty? Simplesmente para deixar claro que não estou aqui diferindo um jogo de plataforma colorido de um survival horror gore. Estou falando de games em geral e como todos estes têm algo a nos ensinar, principalmente no desenvolvimento imaginativo.

 E entramos no processo imaginativo, outra ponta do iceberg. A sociedade tem por regra não valorizar a imaginação enquanto qualidade essencial da vida humana, sendo que isso vem atingir a todo um contexto, como, por exemplo, a família, a escola (que se volta a uma educação que apresenta maior importância à produção do aluno do que ao desenvolvimento integral do ser), e vários outros aspectos. O processo imaginativo utilizado como recurso pedagógico e estratégia educacional (como os jogos, a literatura infantil e desenhos) possibilitam o desenvolvimento da criatividade e do raciocínio contribuindo na formação intelectual, pois faz com que a criança sinta-se singular e única, já que esta tem a possibilidade de se expressar de acordo com seus sentimentos e emoções facilitando deste modo a aprendizagem.

 Os games podem mudar/moldar uma pessoa, pode abrir portas para um mundo não somente fantástico, mas também ultrarealístico, e tudo isto fica a cargo da imaginação presente a partir de quem idealizou aquilo até chegar nos pixels instalados ou processados pelo seu vídeo game. Então, você ainda não aceita tudo isto ou simplesmente baterá na ponta da faca eternamente? Não posso fazer nada. O porquê de a ideia fixa da sociedade ainda permear por estes estranhos caminhos que preferem apontar e discordar? Porque é mais fácil mesmo. Coisas como jogos ou filmes serem tidos apenas como formas alienatórias, violentas, ou até mesmo imaturas de se aproveitar a vida, sempre vai permear a cabeça de alguém. Em resumo, é mais fácil para todos apenas falar daquilo que vê, mas estudar aquela visão ninguém faz. Criticar é diferente de presumir, e jogar não é diferente de aprender. Isto eu comprovo (porém os haters discordarão). ;)

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